sexta-feira, dezembro 28, 2007

Diary of a bad year - Coetzee

Coetzee veio para a Flip e leu trechos deste livro para o público. Não sei se o público gostou, pelo o que li, a recepção não foi lá muito calorosa.
O livro não é um romance, mas consiste de vários ensaios sobre as opiniões do autor sobre política, arte e de suas experiências como escritor. Cada página é divida em três pedaços, acima ficam os ensaios e abaixo está o "diário" propriamente dito. Um trecho é escrito pelo autor dos ensaios, o Sr. C, e o outro por Anya, uma garota que mora no mesmo prédio do autor e que ele contrata para datilografar os seus textos. O espaço destinado a Anya e ao Sr. C serve para que ambos expressem suas críticas aos ensaios da parte superior e dão um ar mais pessoal à obra.
A primeira parte do livro, aquela que trata mais de política e do mundo, é um pouco tediosa (como Anya mesmo diz ao autor), mas a segunda parte, composta de pequenos ensaios sobre o dia a dia e as experiências do autor, é quase confessional. Gostei bastante do livro, dá para confirmar que há muito de Coetzee em Elizabeth Costello, um tipo de alter ego do escritor, mas aqui ele fala em primeira pessoa. Talvez a única coisa um pouco desagradável seja ter que ler o ensaio inteiro e depois voltar para ler os dois pedaços abaixo dele, mas eles são curtos e rápidos. Eis um trecho:

"Leio o trabalho de outros escritores, leio as passagens de densa descrição que eles compõem com grande esmero e trabalho com o propósito de evocar espetáculos imaginários diante do olho interno, e meu coração vai a pique. Eu nunca fui muito bom em evocar o real, e tenho ainda menos estômago para a tarefa agora. A verdade é: eu nunca derivei muito prazer no mundo visível, não sinto com grande convicção a necessidade de recriá-lo com palavras."

Sobre a vida escrita

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Life and times of Michael K.

Se o Daniel perguntasse qual o melhor livro que li nestes últimos dias, diria que foi Life and Times of Michael K. do J.M. Coetzee. Tenho fases de leitura e às vezes leio vários livros de um mesmo autor um atrás do outro. Atualmente é o Coetzee, um autor sul-africano que mora na Austrália. O livro em questão foi publicado em 1983, vinte anos antes dele ganhar o Nobel, mas é muito bom! Comecei a ler Coetzee começando com Disgrace, provavelmente seu livro mais aclamado, e continuei com suas obras mais recentes (Elizabeth Costello, Master of Petersburg, Slow Man), agora faço o caminho inverso (antes de seguir com esse projeto, entretanto, lerei Diary of a bad year).
Life and Times of Michael K. conta a história de Michael, filho de uma empregada doméstica que nasceu com lábios leporinos e algum retardo mental. Ele cresce em uma instituição para portadores de deficiência, entra para o serviço público e vira jardineiro na cidade do Cabo. Ele está com trinta anos, sua mãe está doente e a África do Sul está em guerra. É nesse cenário que Michael parte carregando sua mãe em uma carriola improvisada em direção ao interior do país. A viagem é árdua, sua mãe morre no caminho, mas Michael prossegue em uma viagem marcada por suas estadas escondido na estepe ou nas montanhas, alimentando-se de insetos, pequenos animais e raízes, e passagens por campos de trabalhadores e hospitais. Michael é um personagem tocante, como alguém descreve bem, ele é um ser original, que vive alheio à guerra, sem preocupações maiores do que observar as coisas ao seu redor de forma impassível.
Eis como o próprio Michael descreve sua vida:

"Em todos os lugares para onde vou, há pessoas esperando executar suas formas de caridade em mim. Todos esses anos e eu ainda trago o ar de um órfão. Elas tratam-me como as crianças de Jakkalsdrif que estão preparadas a alimentar porque ainda são muito jovens para ser culpadas de qualquer coisa. Em troca, elas esperam apenas um gaguejo de agradecimento das crianças. De mim, elas esperam mais, porque estive mais tempo no mundo. Elas desejam que eu abra meu coração e conte a história de uma vida vivida em jaulas. Elas querem ouvir sobre todas as jaulas nas quais vivi como se eu fosse um papagaio, ou um rato, ou um macaco. E se eu tivesse aprendido a contar histórias em Huis Norenius ao invés de descascar batatas e a fazer somas, se tivessem feito com que praticasse a história da minha vida todos os dias, vigiando-me com uma vara até que eu conseguisse fazer isso sem cometer erros, eu poderia satisfazê-las. Eu teria contado a história de uma vida em prisões nas quais eu permanecia dia após dia, ano após ano, com a testa contra a grade com os olhos perdidos na distância, sonhando com experiências que nunca teria, onde os guardas xingavam-me e chutavam meu traseiro e mandavam-me esfregar o chão. Quando minha história terminasse, as pessoas balançariam a cabeça, teriam pena, sentiriam raiva e ofereceriam comida e bebida; as mulheres me levariam para suas camas e me acalentariam no escuro. Entretanto, a verdade é que seu fui um jardineiro, primeiro para a Câmara, depois para mim mesmo, e jardineiros passam seu tempo com o nariz no chão."


domingo, dezembro 09, 2007

Dedicatória

A Mary com certeza ficaria surpresa em saber que o livro que ela deu para seu pai veio parar aqui no Brasil...

domingo, dezembro 02, 2007

Meme cultural

Vi o meme no blog da Maria Helena e tive que responder!

Último livro comprado

Apesar de gostar de ler, não costumo comprar muitos livros, quer dizer, raramente compro livros e quando compro, geralmente são dicionários ou livros de gramática de línguas estrangeiras (minhas últimas aquisições foram livros de verbos espanhóis e italianos), sou mais prática nesse aspecto. A compra de literatura cabe ao O.

Estou lendo agora

The naked heart: The bourgeois experience, Victoria to Freud do Peter Gay.

Der Prozess, Franz Kafka. ("Lendo" é maneira de dizer, pois vou devagar quase parando, cansa ficar procurando palavras no dicionário. Na verdade é uma releitura para praticar o alemão.)

Les mille et une nuits, estou no segundo volume, também devagar, após umas mil e quinhentas páginas, meu pique diminuiu.


Número de livros que tenho


Como não compro, tenho bem poucos livros MEUS, mas a biblioteca do O. é suficientemente grande para que eu deteste a época em que preciso limpá-la. (O. adora ter livros e também é um leitor voraz e ciumento, daqueles que não emprestam e não vendem para ninguém, nem mesmo membros da família, acho que eu fui a única exceção à regra e por isso tivemos que nos casar.)


Três livros que significam muito para mim

Os colegas da Lygia Bojunga Nunes, Contos do Andersen, O país das Neves (Kawabata)


Últimos filmes que vi


No cinema: Acho que foi Sin City (como podem perceber, não vou muito ao cinema...)
Na tv: Elsa e Fred, uma graça de filme.

Filmes que significam muito para mim


Imensidão Azul (Luc Besson); O pássaro azul (Walter Lang); (ops, quanto azul!); Comer, beber, viver (Ang Lee); A excêntrica família de Antônia (Gorris), Rapsódia em agosto (Kurosawa), O casamento de Muriel (Hogan).


Último cd que comprei


Quando foi que comprei meu último cd? Não me lembro... Acho que foi uma coletânea de música cubana...

Música que estou ouvindo agora


Eleni Mandell
e Edith Piaf

Três músicas que significaram muito para mim

Faroeste caboclo (Legião), Champagne Supernova (Oasis), Non, je ne regrette rien (Piaf)

Bebida Favorita

Água

Personagem favorita

A Jô de "Pequenas Mulheres" da Louisa May Alcott.

Férias favoritas

São Sebastião (litoral norte de SP) na casa de uma tia quando era criança.

Vício favorito

Doces

Aqui fica o meme para quem quiser responder!


Dica

Estou animada para ler em alemão, não que tenha me tornado assim fluente, mas estou melhorando. Peguei os livros da foto na escola , eles foram doados e na hora do intervalo no sábado passado, havia um monte à disposição dos alunos, era escolher, pegar e levar. Não havia muitas obras de autores alemães, mas consegui encontrar alguma coisa. Chegando em casa, coloquei os volumes dentro de um saco tipo ziplock e deixei no freezer de um dia para o outro, esse é um bom procedimento para matar traças e carunchos e uma boa prática caso você goste de comprar livros em sebos e tema uma infestação na sua biblioteca. Não me lembro onde aprendi isso, sei que li em algum lugar, mas a idéia é ótima.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Ignorância - Milan Kundera

Outro dia escrevi que li vários livros do Kundera e que não me lembrava dos enredos das histórias, era verdade, mas após ler Ignorância, acho que posso explicar um pouco melhor a razão de meus "brancos". As histórias do autor giram em torno de relacionamentos, identidade e sentimentos, são eles que ocupam o papel principal e , desta forma, torna-se difícil definir um "enredo" para seus romances. Agora, uma coisa tenho que admitir, Kundera escreve belamente. Neste livro, ele narra o retorno de Irena e de Josef à República Tcheca após vinte anos de exílio em outros países da Europa e mostra como as pessoas que os conheceram olham para os dois como se fossem uma espécie de desertores e procuram fazer de conta que os últimos vinte anos de suas vidas não existiram. Kundera também fala sobre como muito nos relacionamentos humanos é baseado em equívocos:

"Imagine os sentimentos de duas pessoas que se encontram novamente após muitos anos. No passado, elas ficaram algum tempo juntas e portanto acham que estão unidas pela mesma experiência, pelas mesmas recordações. Pelas mesmas recordações? É aí que os mal-entendidos começam: elas não possuem as mesmas recordações; cada uma retém duas ou três pequenas cenas do passado, mas cada uma possui as suas próprias recordações, elas não são parecidas, elas não se cruzam; elas não são comparáveis nem mesmo em termos de quantidade: uma pessoa lembra-se da outra mais do que esta se lembra dela; primeiro, porque a capacidade da memória varia entre os indivíduos (uma explicação que cada uma delas acharia ao menos aceitável), mas também (e isso é mais doloroso de se admitir) porque elas não possuem a mesma importância para cada uma delas. Quando Irena viu Josef no aeroporto, ela lembrava-se de cada detalhe de sua aventura do passado; Josef não se lembrava de nada. Desde o primeiro instante, seu encontro estava baseado em uma injusta e revoltante desigualdade."


quarta-feira, agosto 29, 2007

A primeira Lady Chatterley - D. H. Lawrence

Meu primeiro encontro com D.H. Lawrence. O romance O amante de Lady Chatterley é famoso pelas suas cenas de sexo e pela linguagem considerada obscena, mas é preciso notar que há três versões muito diferentes da história e a última, revisada e levada à publicação pelo autor, é aquela responsável por essa fama do romance. Eu não conhecia esses detalhes e peguei a versão que encontrei em inglês, pois prefiro ler na língua original quando possível.
A Primeira Lady Chatterley conta a história de Connie, casada com Clifford Chatterley, um aristocrata que perdeu o movimento das pernas durante a guerra, e seu romance com um dos empregados da propriedade, Oliver Parkin. Ela procura este último com a intenção de satisfazer as necessidades sexuais que Clifford não é mais capaz de atender, mas apesar de tudo começar com um desejo físico, aos poucos Connie começa a ver um outro lado de Oliver que, de certa forma, desarma-a. O relacionamento envolve muitas dificuldades, ele faz parte da classe trabalhadora, ela é uma lady, e isso gera conflitos entre os dois amantes. Mesmo a linguagem de Oliver é algo que o separa do mundo de Connie.
Li que Lawrence pretendia dar o título de Ternura para o livro, creio que seria um bom título, ao menos para esta versão do romance. A descrição do relacionamento entre Connie e Oliver e de seus conflitos é muito terna e vívida. Acho que não lerei a última versão, gostei demais desta aqui.

terça-feira, agosto 21, 2007

Um trecho de "Proust contra Saint-Beuve"

"Cada dia dou menos valor à inteligência. Cada dia eu me rendo mais conta de que é apenas em seu exterior que o escritor pode reencontrar algo de nossas impressões, quer dizer, atingir algo de si mesmo e a única matéria da arte. Aquilo que a inteligência nos fornece sob o nome de passado, não é o passado. Na realidade, como acontece com a alma dos mortos em certas lendas populares, cada hora de nossa vida, assim que morre, encarna-se e esconde-se em algum objeto material. Ela permanece aprisionada ali dentro, aprisionada para sempre, a menos que reencontremos tal objeto. Por meio dele, nós a reconhecemos, nós a chamamos e ela é libertada. O objeto no qual ela se esconde - ou a sensação, pois todo objeto em relação a nós é sensação - , pode jamais ser encontrado por nós. E assim, há horas de nossa vida que nunca mais ressuscitarão. Pois esse objeto é tão pequeno, tão perdido no mundo, que há poucas chances de que se encontre em nosso caminho!"

(Esse trecho explica bem o episódio da madeleine de Proust, não?)


quinta-feira, julho 26, 2007

After the quake - Haruki Murakami

Demorei um pouco para ler este livro do Murakami, temia que ele fosse meio baixo astral porque foi escrito depois do terremoto de Kobe em 1995, mas estava enganada. O terremoto é apenas mencionado vagamente em cada um dos seis contos que compõem a coletânea, alguém vê a notícia e descobrimos que o personagem morou ou conhece alguém que mora na região e o assunto meio que morre ali. Gostei bastante deles. Murakami trata da solidão e da dificuldade envolvida nos relacionamentos pessoais sempre de modo muito delicado.

Ufo em Kushiro, é sobre um rapaz que é deixado pela esposa e vai até Hokkaido levar um pacote para a irmã de um amigo e para se esquecer de sua situação.

Paisagem com Ferroplano, mostra o relacionamento de um pintor de meia idade que gosta de fazer fogueiras com a madeira que encontra na praia e uma garota que fugiu de casa quando era mais jovem.

Todos os filhos de Deus podem dançar, é sobre um rapaz que busca respostas sobre quem é seu pai.

Tailândia, um de meus preferidos, é sobre uma médica que vai até a Tailândia para uma conferência e estende sua estadia em um resort em um local isolado.

Super-sapo salva Tóquio, também é um barato, muito divertido e bonito. Um dia um cara que trabalha em um banco encontra um sapo gigante em seu apartamento que diz que ele precisa ajudá-lo a derrotar "Verme", um ser que vive no subsolo e ameaça destruir a cidade de Tóquio...

Torta de mel, conta a história de três amigos e de seu triângulo amoroso. Também muito terno.

Agora estou sem Murakamis para ler e tenho que esperar...

segunda-feira, julho 23, 2007

Elizabeth Costello - J. M. Coetzee

Li "Disgrace" (traduzido como "Desonra" no Brasil) antes do escritor sul-africano John Maxwell Coetzee ganhar o Nobel de literatura em 2003 e o achei ótimo, depois li O mestre de São Petesburgo, cujo personagem principal é Dostoievski e, ontem, terminei Elizabeth Costello. Respectivamente, um romance sobre a questão racial na África do Sul, um livro que traz um Dostoievski atormentado em busca de respostas sobre a morte de seu enteado e as cenas da vida de uma escritora já consagrada no final de sua carreira, Elizabeth Costello.

Gosto de Coetzee, ele mereceu o Nobel e um dia espero encontrá-lo em uma Flip da vida apenas para conferir se ele é parecido com seus personagens: um pouco cínico, um pouco cansado, alguém que responderia "Whatever" para qualquer questão que lhe fizessem como se tivessem lhe perguntado algo como "Would you like to have tea or coffee?".

Acho que em Elizabeth Costello ele deixa bem clara a forma como encara a vida de um escritor. A protagonista viaja de um lado para o outro para dar palestras sobre a literatura ou para falar sobre assuntos como a crueldade com os animais, mas apesar de aceitar os convites, ela não deixa de se exasperar em ter que conversar com pessoas com as quais não se importa quando preferiria estar descansando.

No último capítulo, uma alegoria sobre a morte parecida com alguns episódios das histórias de Kafka, Elizabeth está em uma cidade estranha e quer atravessar um portão para sair de lá, mas para isso, precisa apresentar-se diante de um júri e dizer no que acredita. Ela já está na segunda audiência e se desespera, pois sabe que sua busca por alguma paixão, por algo em que professar sua fé, parece estar condenada ao fracasso.

"When she was young, in a world now lost and gone, one came across people who still believed in art, or at least in the artist, who tried to follow in the footsteps of the great masters. No matter that God had failed, and Socialism: there was still Dostoevsky to guide one, or Rilke, or Van Gogh with the bandaged ear that stood for passion. Has she carried that childish faith into her late years, and beyond: faith in the artist and his truth?

Her first inclination would be to say no. Her books certainly evince no faith in art. Now that it is over and done with, that lifetime labour of writing, she is capable of casting a glance back over it that is cool enough, she believes, even cold enough, not to be deceived. Her books teach nothing, preach nothing; they merely spell out, as clearly as they can, how people lived in a certain time and place. More modestly put, they spell out how one person lived, one among billions: the person whom she, to herself calls she, and whom others call Elizabeth Costello. If, in the end, she believes in her books themselves more than she believes in that person, it is belief only in that sense that a carpenter believes in a sturdy table or a cooper in a stout barrel. Her books are, she believes, better put together than she is."

Oh,dear Emily!

Adoro a Emily Dickinson, gosto tanto de seus poemas:

I'm nobody! Who are you?
Are you - Nobody - Too?
Then there's a pair of us!
Don't tell! they'd advertise - you know!

How dreary - to be - Somebody!
How public - like a Frog -
To tell one's name - the livelong June -
to an admiring Bog!

Este também:

I've seen a Dying Eye
Run round and round a Room -
In search of Something - as it seemed -
Then Cloudier become -
And then - obscure with Fog -
And then - be soldered down
Without disclosing what it be
'Twere blessed to have seen -

domingo, julho 15, 2007

Como acabar de uma vez por todas com a cultura - Woody Allen

Descobri Woody Allen como escritor recentemente, quando li um dos artigos que ele escreveu para a revista New Yorker no qual mistura teorias filosóficas e dietas. Eu o achei extremamente divertido, um exemplo da típica ironia woodyalleniana e fiquei feliz ao encontrar uma coletânea com outros artigos em um livro bem velhinho, publicado pela primeira vez em 1974.

O. compra livros "curiosos", então tive que ler tudo em espanhol.

Em "Como acabar de uma vez por todas com a cultura" Allen satiriza tudo e todos, desde a psiquiatria, biografia, revoluções, filosofia até o cinema e a máfia. Achei alguns artigos melhores do que outros, acho que há algumas tiradas que fazem mais sentido se você é americano ou judeu, mas no geral, é uma leitura bem interessante e que flui rápido. Eis um trecho do artigo "Como acabar com as revoluções na América Latina", os revolucionários estão na selva e um deles escreve um diário da campanha:

"10 de julho: Hoje foi, em linhas gerais, um bom dia levando em consideração que os homens de Arroyo nos emboscaram e quase nos liquidaram. Em parte, a culpa foi minha, porque revelei nossa posição ao invocar a Santíssima Trindade aos berros quando uma tarântula subiu por minha perna. Durante alguns segundos, não consegui me livrar da tenaz da maldita aranha enquanto ela abria caminho nas secretas profundezas de minha roupa fazendo com que eu corresse como um louco até o rio e me jogasse nele, o que me pareceu que durou três quartos de hora. Pouco depois, os soldados de Arroyo abriram fogo sobre nós. Lutamos com valentia, embora a surpresa tenha criado uma leve desorganização e durante os primeiros dez minutos nossos homens tenham atirado uns nos outros. Mesmo Vargas se salvou por um fio da catástrofe quando uma granada aterrissou a seus pés. Ele ordenou que me jogasse sobre ela. Consciente de que somente ele era indispensável para nossa causa, eu o fiz. O destino quis que a granada não explodisse, e saí inteiro do incidente com apenas um ligeiro tremor e a incapacidade de adormecer a menos que alguém segure uma de minhas mãos."


quarta-feira, julho 11, 2007

Nova lista de livros para ler

Duas vezes por ano, eu tenho que dar uma geral na edícula que fica do lado da casa. Lá estão parte de nossos livros e alguma "bagunça" (atualmente parece haver mais bagunça do que livros), a tarefa consiste em limpar as prateleiras das estantes e colocar bolinhas de naftalina em cada uma delas, atrás dos livros, passei metade do dia fazendo isso, a naftalina acabou e preciso comprar mais, falta bastante para terminar e agora o trabalho vai mais devagar, porque a naftalina impregna tudo e não posso ficar lá dentro por muito tempo. (Não quero ser encontrada de costas junto com as baratas!) Sempre que faço a limpeza encontro algo que sinto vontade de ler, estes entraram na fila:

After the quake do Murakami, contos sobre o terremoto de Kobe.
Um livro do Woody Allen em espanhol, língua em que não gosto de ler, mas O. às vezes compra coisas do arco-da-velha, como alguns livros do Kafka em italiano. Mamma mia!
O processo do Kafka em alemão (quero ver se meu curso está adiantando algo)
Precision and Soul, um livro de ensaios do Musil.

quinta-feira, junho 28, 2007

Gargantua e Pantagruel

Estou lendo um volume das obras completas de Rabelais que O. comprou por um bom preço em um sebo virtual fora do país. Sempre tive curiosidade em saber quem eram Gargantua e Pantagruel e agora já sei! São dois gigantes memoráveis e suas histórias são pontilhadas por grandes comilanças, bebedeiras homéricas e episódios escatológicos. Por exemplo, Gargantua, filho de Grandgousier e pai de Pantagruel, nasce logo após sua mãe ter um problema intestinal por ter comido muitas tripas, sem falar que Gargantua afoga uma tropa de inimigos após aliviar sua bexiga...

As histórias são divertidas e deveriam ser ainda mais interessantes na época em que foram escritas, pois contêm uma sátira impiedosa das instituições públicas e eclesiásticas da época (séc. XVI). Estou lendo em francês, mas como Rabelais inventa muitas palavras e brinca com umas tantas outras, acho que não tiro todo o proveito que poderia da leitura. Traduzir os cinco livros que constituem toda a história de Gargantua e Pantagruel não deve ser uma tarefa fácil, imagino que seja o equivalente a traduzir Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa para outra língua (o que já foi feito).

(Descobri que há uma tradução para o português aqui, mas não sei quem é seu tradutor. )

Achei divertidíssima a relação de livros que Rabelais diz existir na biblioteca de uma abadia, ele tira um tremendo sarro da produção literária e interesses intelectuais dos "doutos" de sua época, os meus títulos preferidos são:

"Como tirar profiterolles das indulgências"
"A quimera zumbindo no vazio é capaz de devorar as segundas intenções?"
"Contra aqueles que dizem que a mula do Papa só come nas suas horas"
"Os devaneios dos casos de consciência"
"O interesse do traseiro na cirurgia"
.
.
.
etc.


quinta-feira, junho 14, 2007

After Dark - Haruki Murakami

Este é o último livro traduzido para o inglês do Murakami. Infelizmente, ele durou pouco, eu o li em duas noites. O livro não chega a ser um romance, é quase uma coleção de crônicas sobre personagens que se cruzam em uma noite em Tóquio: uma garota que passa o tempo lendo em redes de fast food ou bares, um rapaz que toca trombone, uma prostituta chinesa espancada e seu agressor, a gerente de um love hotel e ex-pugilista, uma modelo que dorme. O narrador nos conduz às cenas como se dirigisse um filme, ouvimos conversas, nossos olhares são conduzidos para closes e detalhes alheios aos personagens. Há jazz, muito jazz, como trilha sonora. A sensação é a de que estamos diante de um misto de Short Cuts com um filme noir. A cidade também participa da história como um organismo vivo, mas indiferente aos acontecimentos e vidas de seus habitantes.
Murakami gosta de experimentar novas técnicas de narração, ele parece se divertir com isso. Como muitos outros de seus fãs, acho que o livro não apresenta o autor em sua melhor forma, mas é bom e Murakami continua sendo um de meus autores favoritos.


terça-feira, junho 05, 2007

Anna Karenina - Tolstoi

Terminei de ler Anna Karenina ontem. Uma obra magnífica! Nunca tinha lido nada de Tolstoi antes e fiquei de queixo caído com a maneira como ele consegue criar personagens e descrever seus estados de alma. A história não é apenas sobre o adultério de Anna, é um retrato da Rússia na época em que Tolstoi escreveu seu romance. Ao contrário de Dostoievsky, cujas obras geralmente tratam das classes trabalhadoras ou menos favorecidas da sociedade, Tolstoi escreve sobre sua própria classe, a aristocracia, sem deixar de criticá-la.
Anna é uma mulher apaixonada, ciumenta, que se casou por conveniência e que se apaixona perdidamente por Vonskri. Em nome de seu amor, ela deixa tudo para viver com seu amante. Por causa de seu caráter apaixonado e de seu medo de não ser mais amada por Vonskri, ela toma atitudes desesperadas que culminam em seu suicídio.
Apesar do título, o livro não trata apenas de de Anna e de seu relacionamento, mas também do amor entre Levine (alter ego do autor) e Kitty e de seu círculo familiar, bem como das contradições internas de cada um de seus personagens.
Ah, os clássicos são clássicos por alguma razão!


segunda-feira, maio 07, 2007

Em busca do tempo perdido - No caminho de Swan

Talvez alguns livros realmente devam ser lidos em determinadas épocas de nossas vidas, ao menos para mim, esse foi o caso com Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, obra que narra as memórias do autor desde sua infância, composta de sete volumes. Todo mundo falava tanto desse autor francês, sempre lia elogios à sua obra e, no entanto, quando peguei o primeiro volume, "No caminho de Swan", e o li, achei tão enfadonho! Parei no começo do segundo volume, "À sombra das raparigas em flor", e o esqueci por completo. Há alguns anos atrás, resolvi fazer um curso de literatura em uma escola de francês apenas para melhorar o vocabulário e manter contato com a língua, a obra a ser lida era "Sodoma e Gomorra", se não me engano, o quarto volume de Em Busca do Tempo Perdido. Daquela vez, fui conquistada por Proust e li todos os volumes, um atrás do outro! Ah, as descrições de Combray e Balbec, cidades nas quais o autor respectivamente passou sua infância e suas férias à beira-mar, são belíssimas! A riqueza de detalhes e composição dos personagens são invejáveis!

No caminho de Swan
, À Sombra das raparigas em flor e Sodoma e Gomorra são os volumes de que mais gosto, mas a obra toda é muito boa!

Terminei de reler o No caminho de Swan esta semana, este é finalzinho do livro:

"Os lugares que conhecemos pertencem apenas ao mundo do espaço no qual os situamos por uma questão de comodidade. Eles não passavam de uma fatia ínfima entre as impressões contíguas que formavam nossa vida então, a lembrança de uma certa imagem é apenas o pesar de um certo instante; e as casas, as ruas, as avenidas, são fugitivas, hélas, como os anos."

*Há traduções muito boas para o português feitas por Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana!


domingo, maio 06, 2007

Questionário literário

(Respondi este meme no Kafka, mas como ele é sobre livros...)

A querida Elvira da Tasca me convidou a responder este questionário sobre livros, como sou apaixonada pela literatura e gosto de memes, eis minhas respostas (em português, pois meu francês anda enferrujado...):

Os 4 livros de minha infância:

Os colegas de Lygia Bojunga Nunes, li este livro infantil com uma prima em uma viagem ao litoral norte de SP, antes de dormir, cada uma de nós lia um pedaço, como ela se cansou, li o final sozinha. Relido várias vezes.
Monteiro Lobato: Li todas as histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo. É uma pena que as crianças prefiram assistir televisão hoje em dia...
Contos de Hans Christian Andersen: como a Elvira, eu também adorava os contos de Andersen, eles não são alegres, ao contrário, muitas vezes, são sombrios, mas muito interessantes. Minha história favorita era a "Rainha da Neve".
Estórias e lendas brasileiras contadas pelo Arrelia: uma coletânea de contos e lendas brasileiros divididos de acordo com suas regiões de origem narrados pelo palhaço Arrelia. Histórias sobre o Currupira, Boitatá, Mãe d'água, boto... Não encontrei referência para a coletânea :(


Os 4 escritores que eu lerei e relerei:

Emily Dickinson: Adoro seus poemas sensíveis e cheios de beleza.
Fernando Pessoa: sem comentários!
Marcel Proust: Estou relendo o primeiro volume de Em busca do tempo perdido, algumas de suas descrições de Balbec e de Combray são inesquecíveis...
Yasunari Kawabata: mais uma coincidência com as resposta da Elvira... Yasunari Kawabata é um autor japonês de escrita ímpar. Gosto de pensar que seus textos são compostos de pequenos haikais.

Os 4 autores que não comprarei ou tomarei mais emprestado:

Paulo Coelho: Oh! Ele um dos escritores que aparece constantemente neste item! rs Bem, ele serve para distrair, mas está na categoria de auto-ajuda, não de literatura... Só invejo sua capacidade de fazer dinheiro...
Sidney Sheldon: Hum.. Esta parte do questionário deveria ser suprimida, pois respondê-la me deixa muuuuito embaraçada. Mas vamos lá, li muito Sidney Sheldon quando era adolescente, fazer o quê?
J.J. Benítez : Confesso, li quase toda a Operação Cavalo de Tróia, fiquei esperando a conclusão, mas ela saiu quando eu não estava mais interessada...
Anne Rice: Meu Deus! A humilhação continua! Li todos os livros sobre o vampiro Lestat, alguns sobre bruxas, mas não cheguei à Múmia...

Os 4 livros que eu levaria para uma ilha deserta:

Don Quijote de la Mancha de Cervantes: Don Quijote (ou Quixote) e Sancho Pança protagonizam a mais bela história de amizade e amor que conheço, eles são os personagens mais humanos de toda a literatura: são mesquinhos, ignorantes, geralmente ridículos, mas capazes de grandes demonstrações de amizade e bondade.
As mil e uma noites: adoro suas histórias com perfumes e sabores orientais...
Contos de Genji de Murasaki Shikibu: há anos estou para me atracar com esse livro, uma espécie de diário escrito por uma cortesã no Japão feudal.
Trilogia do Cairo de Naguib Mahfuz: ela conta a história de várias gerações de uma família no Cairo entre a primeira Guerra Mundial e a queda da monarquia no Egito, maravilhosa.

As 4 (x4) últimas palavras de meu livro preferido (também como a Elvira é a última estrofe de um de meus poemas favoritos de Pessoa, Hora Absurda:)

"O que é que me tortura?... Se até a tua face calma
Só me enche de tédios e de ópios de ócios medonhos...
Não sei... Eu sou um doido que estranha a sua própria alma...
Eu fui amado em efígie num país para além dos sonhos..."

Os 4 (+4) primeiros livros de minha lista de (re)leitura:

Anna Karenina, Tolstoi
Gargantua e Pantagruel, Rabelais
Tu rostro mañana, Javier Marías
After Dark, Haruki Murakami (Eba! Ainda há Murakamis para ler! A tradução americana será lançada este mês)

Para reler:

Kafka on the shore, Haruki Murakami
Kokoro, Natsume Soseki
Cem anos de solidão, Gabriel Garcia Marquez
A cor púrpura, Alice Walker

Este meme está aberto a todos os amantes da literatura que quiserem respondê-lo!

sábado, maio 05, 2007

Adorei!

as respostas da karen para o questionário literário que está rolando por aí!
vejam aqui.

segunda-feira, abril 30, 2007

L'art du roman (A arte do romance) - Milan Kundera

A arte do Romance é um dos primeiros livros de ensaios e reflexões de Kundera, o seguinte é Testamentos Traídos, A Cortina é o último. Agora posso dizer que li todos. Gosto do Kundera como escritor, li vários de seus romances e me lembro de tê-los achado bons, mas se me perguntarem o enredo de qualquer um deles, não conseguiria contar nada! Que coisa feia, não é mesmo?
O Kundera ensaísta não se cansa de comentar os autores e obras de que gosta e fazem parte sua formação como escritor: Kafka, Rabelais, Cervantes, Flaubert, Tolstoi, Gombrowics, Hermann Broch... Ele sempre os usa como exemplos do que seria uma grande criação literária. Ele fala das traduções, que se revelam quase sempre filhos infiéis, pois os tradutores gostam de criar expressões e de mudar palavras de acordo com o que julgam soar melhor, fala de seu próprio processo criativo, de como seus romances podem ser comparados a composições musicais, aliás, Kundera estudou música durante muito tempo antes de se tornar escritor e seu pai também era músico. Crítica literária de peso, boa crítica de época e de gostos.


quarta-feira, abril 11, 2007

Blind Willow, Sleeping Woman - Haruki Murakami

Um dos meus últimos Murakamis... Esse livro de contos foi traduzido e publicado nos EUA no ano passado. São 24 contos nos quais o autor se diverte com o leitor, histórias bem ao seu estilo, com direito a mistérios sem solução e uma certa melancolia. Antes de ler o livro, já tinha passado os olhos em uma crítica do Times Literary Supplement no qual o comentador dizia que Murakami, ao contrário de seu hábito, deixava o lado fantasioso de lado nas histórias desse livro. Creio que há alguma verdade nisso. As histórias são mais "pé no chão", muitas vezes mais parecidas com crônicas. A grande maioria trata de pessoas e relacionamentos. E já existe bastante material aí. Mas talvez seja exagero dizer que não há nada "peculiar" nelas.
Gostei muito de "A folklore for my generation: A pre-history of Late-Stage Capitalism", no qual um antigo colega de classe do narrador conta seu relacionamento com a namorada de adolescência. Já tinha lido a história na New Yorker, ela é muito bonita, doce e terna.
"Dabchick", começa com o narrador percorrendo galerias do esgoto em busca de um lugar onde seria entrevistado para um suposto emprego, não somos informados sobre o gênero de trabalho, mas, como o narrador diz, o pagamento é bom. Após andar por vários minutos em busca de uma porta, ele encontra o homem encarregado de levá-lo até seu chefe, mas antes, ele precisa falar qual é a senha do dia... O diálogo entre os dois é muito divertido e me vi rindo enquanto lia.
Leitura gostosa, mas, como sempre, prefiro seus romances.
Murakami, quando sai seu próximo livro, por favor!! I'm a book junkie!

quarta-feira, abril 04, 2007

O caçador de pipas


Um livro que não te larga. Essa é a definição mais apropriada para esse livro (de acordo com a minha própria experiência, esteja bem claro :-).

Minha melhor amiga, a Kan, emprestou-me esse livro há algum (bastante) tempo. Ele estava ali em minha cabeceira e como bem disse Matthew Shirts em sua coluna segunda-feiral do Estadão, "Há uma pilha de livros no criado-mudo, como acontece em muitos domicílios. Alguns poucos já li, outros, a maioria, pretendo ler, mas no fundo, no fundo sei que não vou. Ficam ali como um atestado de boas intenções." Bem, na verdade, eu tinha um pouco de receio de lê-lo, pois já me via chorando página após página.

Mas eu ia ao cabeleireiro naquele dia e o livro que eu estava lendo tinha chegado ao fim. Eu tinha alguns minutos para decidir o que levar pois, para variar, estava atrasada para sair. Revira daqui, mexe dali... e dei de topa com o livro. E falei: é hoje! Meti o danado na sacola e fui embora.

Os dois primeiros capítulos me deixaram um pouco confusa, não conseguia situar direito as personagens. Mas depois disso... eu não consegui despregar os olhos do livro. Incrível. Li um tanto no cabeleireiro (fazendo uma digressão, nunca sei se vai demorar ou não quando vou ao Benê porque é ele quem tem o poder de decisão do que fazer no meu cabelo), tive sorte pois foi um dia de tintura.

Antes de dormir, peguei de novo no livro pensando 'só mais um pouquinho'. Não consegui mais parar. Isso era por volta de meia-noite e meia. A cada página virada, eu falava só mais um pouquinho, só mais um pouquinho. Até que percebi que não conseguiria dormir antes de descobrir o que afinal tinha acontecido de tão terrível entre as duas personagens principais do livro. Resolvi levantar e ir para a espreguiçadeira - meu local favorito de ler e, afinal, deixar o pobre do Gumpa dormir em paz.

Fui lendo página após página, embevecida, comendo as palavras, virando-as tão rápido quanto o meu cérebro permitia, às vezes ansiando por que o autor fosse mais econômico nas descrições e chegasse logo ao ponto. Deitei o livro finado às 9 da manhã seguinte.

O livro me engoliu, uma maravilha. A narrativa envolvente e cativante vai te levando numa vertigem e você quer saber mais, mais, mais. Além do enredo do romance em si, o pano de fundo sobre a história do Afeganistão, a invasão, a guerra e as privações é algo que te pega. Pelo menos a mim. E isso foi uma descoberta incrível pois eu nunca consegui aprender História e Geografia na escola. E agora, depois de 35 anos, descobri que a literatura, os quadrinhos, o cinema podem suprir essa lacuna da minha formação. Khaled Hosseini mostra como esse país foi devastado em tão pouco tempo. É triste e pungente assim como o é a história de Amir e Hassan, as personagens principais e amigos inseparáveis de uma amizade improvável mas que sempre foi sem nunca poder ter sido.

Não sei se foi a minha avidez que me fez ter essa percepção de que o autor poderia ter sido mais econômico em algumas descrições. Olhando em retrospectiva, também achei que ele fez Amir de gato-e-sapato. Desde que comecei a estudar essa questão da criação e do desenvolvimento de personagens tenho prestado mais atenção a esse ponto. Bom, pode ser uma opinião particular.

De toda maneira, é um livro que vale a pena ser lido!

Kan, adorei o livro, apesar de ter ficado com a cara inchada o resto do dia :-)!

PARA DESFRUTAR
Fiquei com vontade de:
» comer no Gopala Prasada, pelas descrições cabeça-gorda que ele faz no livro (apesar de o Gopala ser um restaurante indiano ovo-lacto-vegetariano)
» ouvir a trilha do "Paciente Inglês", a única mais próxima do que eu já tenha ouvido um dia daquelas bandas do mundo
» tomar o chai da Agdá
» rever Babel

SERVIÇO
título O caçador de pipas
autor Khaled Hosseini
editora Nova Fronteira
páginas 365 páginas
título original The Kite Runner
tradução de Maria Helena Rouanet
preço médio R$ 39,90

sábado, março 31, 2007

Ther Curtain - Milan Kundera

Milan Kundera é o autor de vários romances em Tcheco e em francês, entre eles, "A insustentável leveza do ser", que foi filmado. The Curtain é um livro de ensaios sobre a literatura do ponto de vista do autor. Neles, Kundera fala da relação de suas experiências como um emigrado tcheco em outro país, no caso, a França, e a sua obra, bem como da relação da obra de vários de seus autores favoritos (Rabelais, Cervantes, Fielding, Flaubert, Tolstoy, Hermann Broch, Franz Kafka, entre outros) com a sociedade em que vivem. A forma como cada um deles conta uma história, como ela se torna bem sucedida e completa em si mesma, sobre o que cada uma delas nos traz, também são tópicos abordados.

Apesar dele não negar suas origens e trazer a Tchecoslováquia em seu sangue e em sua memória, ele parece detestar quando as pessoas o definem como "o exilado tcheco", de fato, é uma generalização e, como qualquer generalização, ela é empobrecedora. Questões pessoais do autor à parte, os ensaios são bem variados, alguns são brilhantes, outros, nem tanto.

Adoro ler o que os escritores têm a dizer sobre a literatura e sobre os autores de que gostam, acho que é algo muito mais enriquecedor do que ler obras de teoria literária que, como Kundera diz, costumam propagar banalidades.

domingo, março 25, 2007

The elephant vanishes - Haruki Murakami

Esta é uma coletânea de contos do Murakami. São dezessete contos dele reunidos em um livro. O primeiro é praticamente o primeiro capítulo de Wind-up bird. Em seu último livro de contos "Blind Willow, Sleeping woman", o autor mesmo escreve que muitas vezes um conto acaba se transformando em um livro, outro conto, "Barn Burning" tem algo de "Minha querida Sputnik"... A impressão que você tem ao ler os contos, é a de que eles poderiam servir de prólogo para um novo romance. São bons, mas acho que os personagens do Murakami se revelam melhor em histórias mais longas, é como se eles precisassem de espaço para se exporem e nos conquistarem de vez. Claro que há muitas pessoas que discordam da minha opinião, como é possível ler nas críticas feitas à sua última coletânea na Amazon.
Já tinha lido "Lederhosen", a história da mulher que descobre que não gosta do marido e pede divórcio quando viaja até a Alemanha e decide comprar uma daquelas calças/shorts de couro típicos do país, em uma New Yorker antiga. Alguns de seus contos foram publicados pela revista em diferentes momentos.
Os contos de que mais gostei foram "The little green monster" e "A slow boat to China", este último conto é um primor! O narrador fala sobre os chineses que cruzaram seu caminho em diferentes momentos de sua vida com nostalgia: um professor que entrega provas em um exame quando ele era criança, uma garota com quem trabalha nas férias no primeiro ano da universidade e um garoto que reencontra já mais velho vendendo enciclopédias. Muito tocante, talvez porque as pessoas que conhecemos algum dia, mesmo aquelas para as quais não demos muita importância, servem de pontos de referências para a história de nossas vidas.

quarta-feira, março 14, 2007

A wild sheep chase (Caçando Carneiros) - Haruki Murakami

Mais um Murakami se vai.
Há sempre um sentimento de melancolia quando um bom livro chega ao seu fim, especialmente porque eu li sua continuação, Dance, Dance, Dance, antes de A wild sheep chase, ou Caçando Carneiros, como foi traduzido no Brasil.
O mesmo personagem de Dance, quatro anos mais novo, narra sua busca por um carneiro muito especial que escolhe algumas pessoas para serem seus hospedeiros e realizarem seus planos. Sua busca o leva até Hokkaido, no norte do Japão, é lá que ele se hospeda no Dolphin Hotel e conhece o Sheep Professor. É em Hokkaido, também, que ele encontra o Sheep Man...
Apesar da história inusitada, Murakami fala da solidão, da perda e do sentimento de falta de sentido da vida com muita delicadeza. Depois deste livro, restam duas coletâneas de contos para eu ler. Espero que haja mais alguma coisa sendo traduzida para alguma língua inteligível, assim não me sentirei orfã de Murakamis....

quinta-feira, março 08, 2007

Um trabalho invejável

Ok, "roubei" um artigo traduzido da Der Spiegel que estava na primeira página da Uol, mas foi por uma boa causa, eu o achei tão bonito e tocante! Acho que estamos perdendo uma certa dimensão poética da vida e a história deste senhor que escreve cartas em Saigon me fez lembrar de que ainda há coisas simples e belas...


08/03/2007

Fiona Ehlers

A principal agência de correios de Ho Chi Minh fica perto do Rio Saigon, na parte mais tranqüila da cidade, onde os arranha-céus ainda não furam as nuvens e nenhuma motocicleta cruza as ruas zoando como um enxame de abelhas. Fica na frente da catedral de Notre Dame, em um prédio colonial antigo de 1886. Parece com os mercados antigos de Paris, pintado em cor de pêssego, com ventiladores zumbindo entre colunas ornamentais e a luz solar entrando por uma clarabóia no telhado. É um lugar eterno - a mais bela agência de correio em toda a Ásia.

Duong Van Ngo, um homem forte de 77 anos, estaciona sua bicicleta à sombra dos plátanos, cujos troncos são pintados de branco como se usassem polainas. Ele saúda os vendedores de postais e atravessa os arcos com o relógio da estação. São oito horas, o início de seu dia de trabalho em uma manhã quente e úmida de fevereiro.

Ngo se senta na ponta de uma longa mesa de madeira, abaixo de um mural de Ho Chi Minh. Ele tira de sua mala dois dicionários e uma lista de códigos postais franceses. Depois, coloca uma fita vermelha em sua manga esquerda para ficar facilmente reconhecível e expõe o cartaz: "Informações e Assistência de Redação".

A primeira pessoa a procurar seu balcão é um homem do delta do Mekong. Ele traz uma carta endereçada a um empresário na Europa. Há um ano que ele trabalha como motorista para esse empresário, levando-o para refeições de negócios e reuniões. Ele pede por escrito se o europeu poderia conseguir um seguro saúde para ele e dar-lhe um adiantamento de US$ 200 (em torno de R$ 400). Ngo traduz a carta para o inglês. "Prezado senhor", escreve com sua caneta tinteiro, "poderia educadamente pedir, sinceramente". Ou seria melhor dizer "afetuosamente"? Não, isso é intimo demais. O homem lhe dá uma nota. Ngo coloca-a dentro do dicionário sem nem olhar.

Ngo é um mediador entre mundos - um escritor de cartas profissional do tipo que costumava existir antigamente. Ele escolhe cada palavra meticulosamente, formula as frases cautelosamente, burila o estilo da carta. Ele sabe como são importantes as palavras, e o mal que podem fazer. Ngo não apenas traduz, ele faz uma ponte entre as pessoas, aconselha-as e conforta-as, discretamente e com perfeita atenção à forma.

Ngo trabalha no correio desde os 17 anos. Ele diz que nunca perdeu um dia de trabalho, nem durante as guerras. Ele fala as línguas dos ex-ocupantes fluentemente até hoje; aprendeu francês na escola e inglês com os soldados americanos.

A segunda pessoa a procurá-lo é uma jovem de batom vermelho, luvas e um pequeno chapéu para protegê-la do sol. Ela dá a Ngo seu telefone celular Nokia e mostra algumas mensagens de texto. Estão escritas em francês e parecem românticas. Ngo traduz espontaneamente: "Quando vier visitá-la, você me mostrará o Vietnã e me ensinará sua língua, mal posso esperar". A mulher sorri envergonhada. Ela conheceu o francês por um site da Web. Amanhã vai voltar e compor sua resposta, com a ajuda de Ngo.

As funcionárias do correio chamam-no de o homem que escreve cartas de amor. Ele já provocou tantos casamentos, dizem, e é um poeta. Bem, diz Ngo, "talvez dois ou três casamentos. O amor em geral se esvai entre os continentes, com as duas línguas, duas culturas - você sabe. Não é fácil."

Ngo ouviu milhares dessas histórias. Algumas bonitas, outras trágicas. Ele procurou crianças de soldados americanos e parentes de cidadãos vietnamitas que escaparam de barco após a guerra. Ele testemunhou muito sofrimento. Ele não dá detalhes. Seus clientes pagam-no por seu silêncio.

Algumas vezes, ele mesmo recebe cartas. Os agradecimentos vêm de todo o mundo e são endereçados ao "Escritor de Cartas, Correio Central, Saigon". Ngo nunca recebe mensagens eletrônicas. Detesta computadores e telefones celulares. "As palavras que vêm de uma máquina não tem alma", diz ele, acrescentando que as pessoas que usam tais máquinas perderam toda educação e noção de estilo.

Durante o intervalo para o almoço, Ngo vai até a rua onde os vietnamitas que moram no exterior se sentam em cafés, usando grandes óculos escuros. Eles vieram para as celebrações do Ano Novo. Enquanto saboreiam seus cafés mocha, sistemas de sprinkler jogam vapor de água refrescante em seus rostos. Ngo pede sopa de macarrão em uma banca.

Turistas japoneses chegam durante a tarde e o fotografam como se fosse um fóssil em um museu. As funcionárias do correio grampeiam páginas de fax e conversam. No meio disso tudo, novos clientes esperam na mesa de Ngo. Eles lhe dão seus livros de endereços, assim como caixas para seus parentes no exterior. "Vitogo", diz uma mulher que trabalha no mercado e usa um chapéu de palha de arroz. "A rua é chamada Victor Hugo", diz ele virando os olhos brevemente, "como o famoso escritor." Ele escreve o endereço no documento de envio.

Ho Chi Minh, lá no mural, teria gostado do que ele faz -"conectar pessoas" por meio de sua caneta tinteiro? Ngo sorri. Política, diz ele, está fora de sua província. Ele conta que costumava ser observado pela polícia, porque era suspeito de trair segredos para os inimigos do Estado. Ainda bem, isso acabou, diz ele. Hoje, o Vietnã é global, e o mundo tornou-se um lugar complexo e imprevisível, diz ele. Isso também significa que há maior demanda hoje por seu trabalho do que antes.

Ngo é atualmente o último escritor da cidade antes conhecida como Saigon. O penúltimo, seu colega Lieng, morreu há 10 meses e não foi substituído. Ngo acha que o mundo poderia fazer mais uso de pessoas como Lieng e ele.

Infelizmente, diz ele, "ele simplesmente não quer nos pagar mais".

Tradução: Deborah Weinberg

terça-feira, março 06, 2007

Os anos de aprendizado e as viagens de Wilhelm Meister - Goethe

Eu concordo que Goethe é um dos grandes marcos da literatura mundial e que todos deveriam ler ao menos uma de suas obras, ele é um autor profundo, com grande erudição e a par das idéias mais importantes do século XVIII, mas, talvez por isso mesmo, ele se torne um tanto quanto cansativo para nós, leitores mais preguiçosos e acostumados com leituras mais leves. Não é por falta de persistência, li As Afinidades Eletivas e Os Sofrimentos do Jovem Werther em diferentes períodos de minha vida, fui até o final do Wilhelm Meister, com suas centenas de páginas, mas não acho Goethe um autor muito atraente para os tempos atuais. Quando tinha 14 anos, talvez pudesse ter aproveitado mais, apesar de não compreender todas as discussões sobre arte, moral, educação, etc., tecidas ao longo da história, mas teria gostado do enredo: um jovem que pretende seguir seu próprio caminho e perseguir seus sonhos. Este é Wilhelm, ele deixa sua família e sua vida burguesa para procurar realizar seus sonhos, entra para um grupo de teatro e se torna ator, mas logo percebe que seus sonhos não são tão cor-de-rosa e que aquilo ao qual dava tanto valor, não é assim tão sublime. Ele se desilude, sofre, encontra pessoas que lhe apontam novas possibilidades e ideais de vida. Estes são os anos de aprendizado de Wilhelm. O segundo livro, Os anos de viagem, é bem desigual, mostra Wilhelm procurando educar o filho que lhe deixou uma mulher pela qual ele se apaixonou na juventude e também procurando educar-se e tornar-se um membro útil da sociedade. Ao contrário do primeiro livro, que é uma narrativa contínua, agora, estamos frente a várias cartas e histórias narradas ou apresentadas a Wilhelm nos lugares pelos quais ele passa. Acho o primeiro livro melhor.
Recomendo para todos aqueles que têm interesse no século XVIII. Ele não é leve, não é fácil, mas sempre há algo a aprender, além do mais, quem sou eu para dizer que Goethe é chato? Talvez nós é que tenhamos ficado superficiais.



sábado, fevereiro 24, 2007

como é bom ter cachorro!

Finalmente, estréio neste blog com minha primeira contribuição!

Livros são entidades graciosas e que têm vontade própria na minha vida.

Às vezes, leio um volume enorme de uma tacada só. Às vezes, engreno rápido, rápido até uma determinada parte, depois o livro repousa sobre minha cabeceira ou, ainda, na estante e depois o termino de outra tacada. Sem explicação aparente. Foi o que aconteceu com Marley & eu.

Ganhei esse livro da minha melhor amiga, a Kan, que também é convidada a colaborar neste bloguinho juntamente com o Ricardo, mas ainda não estrearam seus escritos.

A Kan, como eu, é apaixonada por cães e assim que leu este livro, correu a me presentear com um exemplar. Ela é uma leitora contumaz e somos tão amigas que ela é, para mim, a irmã que nunca tive.

Pois bem, Marley & eu é um best-seller escrito por John Grogan, um jornalista americano e conta a maravilhosa e, ao mesmo tempo, terrível convivência por longos 13 anos entre ele, sua família florescente e Marley, um adorável labrador demoníaco!

Entre muitas peripécias, 'causos' do dia-a-dia e até mesmo feitos heróicos, o tempo vai passando, mudanças vão acontecendo na vida de John, de Jenny (sua esposa), de Marley e do florescimento dessa família comum.

Os donos de cães que, como eu, dariam tudo pelos seus cachorros, se identificarão em muitos momentos da história e com John chorarão e também darão boas gargalhadas. Eu, manteiga derretida que sou, chorei em muitas partes e, uma vez mais, agradeci aos céus pela bênção dos yorks que vieram povoar a minha vida! E, ah, apesar dos três monstros que estão comigo... que saudades senti da minha preciosa Safiri...

E só para dar um gostinho, eis um dos trechos de que mais gostei:

"Pensei muito em como descrevê-lo, e foi isto que resolvi dizer: 'Nunca ninguém disse que ele era um grande cachorro - ou mesmo um bom cachorro. Ele era tão selvagem quanto uma banshee irlandesa e tão forte quanto um touro. Ele atravessava a vida alegremente com um gosto mais freqüentemente associado aos desastres naturais. Ele foi o único cão que conheci que foi expulso da escola de adestramento.' [...] Ele não era só isso, no entanto, e descrevi sua intuição e empatia, sua delicadeza com crianças, seu coração puro.

[...] 'Marley me ensinou a viver cada dia com alegria e exuberância desenfreadas, aproveitar cada momento e seguir o que diz o coração. Ele me ensinou a apreciar coisas simples - um passeio pelo bosque, uma neve recém-caída, uma soneca sob o sol de inverno. E enquanto envelhecia e adoecia, ensinou-me a manter o otimismo diante da adversidade. Principalmente, ele me ensinou sobre a amizade e o altruísmo e, acima de tudo, sobre lealdade incondicional'.

Kan, adorei meu presentinho, você realmente sabe tudo sobre mim! beijinhos, mi.

SERVIÇO
título Marley & eu: a vida e o amor ao lado do pior cão do mundo
autor John Grogan
editora Prestígio Editorial, um selo da Ediouro Publicação
páginas 268 páginas
título original Marley & me: life and love with the world's worst dog
tradução de Thereza Christina Rocque da Motta e Elvira Serapicos
preço médio R$ 29,90
site www.marleyandme.com

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Este post tem a intenção de disseminar o livro 'Marley & eu' de John Grogan. Todos os direitos são reservados aos seus respectivos proprietários.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Haruki Murakami - Dance Dance Dance

"My peak? Would I even have one? I hardly had had anything you could call a life. A few ripples. Some rises and falls. But that's it. Almost nothing. Nothing born of nothing. I'd loved and been loved, but I had nothing to show. It was a singularly plain, featureless landscape. I felt like I was in a video game. A surrogate Pacman, crunching blindly through a labyrinth of dotted lines. The only certainty was my death.
No promises you're gonna be happy, the Sheep Man had said. So you gotta dance. Dance so it all keep spinning."

Um hotel misterioso em Sapporo no qual vive um homem vestido com uma fantasia de carneiro, um ser primordial, mortes banais ou misteriosas, um ator, algumas prostitutas, uma garota de 13 anos e sua família, este é o universo de Dance, Dance, Dance, história narrada por um homem de 34 anos que trabalha como free lancer para jornais, revistas, etc.

Simpatizei com ele, quando ele diz que seu trabalho é "escavar neve cultural", algo sem sentido, sem paixão, achei que aquilo era uma boa descrição para o que tenho feito até agora. Eu não diria neve, mas capim, eu faço montes de capim pesquisando o século XVIII, capim histórico. Algo não menos inútil.



terça-feira, janeiro 30, 2007

Hard-boiled wonderland and the end of the world

Outro livro do Murakami! Ok, estou virando uma Murakami freak, mas para minha defesa, não achei este livro tão empolgante. São duas histórias paralelas nas quais os personagens não possuem nome. Em Hard-boiled wonderland, seguimos os passos de um homem de 35 anos que trabalha para o Sistema, um tipo de organização governamental que controla a informação, ele é um Calcutec, quer dizer, ele é capaz de processar informações e dividir as funções que deve realizar em seu cérebro, ou seja, ele é um tipo de computador ambulante. Ele é chamado para realizar um trabalho para um velho cientista chamado apenas de "Professor", ele conhece sua neta, que só se veste de pink e, partir desse encontro, ele descobre que sua mente está prestes a ser absorvida por um outro mundo, criado por seu subconsciente. A história deste outro mundo é narrada em The end of the world, ali, o nosso calcutec é um homem que chega em uma cidade cercada por uma muralha e na qual os habitantes devem se desfazer de suas sombras, de suas memórias, nesse lugar, não há violência, nem amor, nem desejos, todos tem uma existência pacífica e funções a desempenhar. O calcutec do mundo real (se é que há algo que possa ser chamado de real nas histórias) recebe a função de Dreamreader na cidade e deve ir para a biblioteca ler sonhos antigos que estão contidos em caveiras de unicórnios todas as noites. A tensão do livro fica por conta do dilema criado pelas duas histórias, pois, para que um dos dois mundos seja preservado, talvez o outro deva deixar de existir...

sexta-feira, janeiro 19, 2007

The wind-up bird chronicle

Continuo lendo Murakami, o grande fã desse autor aqui em casa é meu marido, mas depois de ler "Minha querida Sputnik", não consigo mais parar. Murakami tem dois gêneros de livros, aqueles com histórias onde tudo se passa de acordo com a realidade, como Norwegian Wood e South of the border, West of the sun e aqueles nos quais a história dos personagens se divide entre dois universos paralelos que se interpenetram, caso de Minha querida Sputnik, Kafka on the shore e de Wind-up bird.
Wind-up bird é sobre Toru Okada, um cara comum de trinta anos que vê sua vida mudar radicalmente quando decide deixar o trabalho para pensar no que deseja fazer com sua vida. Ele passa o tempo cuidando da casa e cozinhando. É nesse momento que ele e sua esposa começam a ouvir o canto de um pássaro misterioso que prenuncia acontecimentos muito estranhos.... O gato de Toru desaparece e sua esposa o abandona. Após esses acontecimentos, ele se depara com situações e personagens singulares, como May, a adolescente obcecada pela idéia da morte, Coronel Mamiya, marcado por uma história terrível que se passa nas estepes da Mongólia, as irmãs Creta e Malta Kano...
Ainda gosto mais dos outros livros mencionados acima, mas Murakami é Murakami e ele não desaponta...

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

W. B. Yeats

Um livro que descobrirei aos poucos. Eis um poema dele:


Brown Penny
I whispered, 'I am too young,'
And then, 'I am old enough';
Wherefore I threw a penny
To find out if I might love.
'Go and love, go and love, young man,
If the lady be young and fair.'
Ah, penny, brown penny, brown penny,
I am looped in the loops of her hair.

O love is the crooked thing,
There is nobody wise enough
To find out all that is in it,
For he would be thinking of love
Till the stars had run away
And the shadows eaten the moon.
Ah, penny, brown penny, brown penny.
One cannot begin it too soon.