quinta-feira, julho 26, 2007

After the quake - Haruki Murakami

Demorei um pouco para ler este livro do Murakami, temia que ele fosse meio baixo astral porque foi escrito depois do terremoto de Kobe em 1995, mas estava enganada. O terremoto é apenas mencionado vagamente em cada um dos seis contos que compõem a coletânea, alguém vê a notícia e descobrimos que o personagem morou ou conhece alguém que mora na região e o assunto meio que morre ali. Gostei bastante deles. Murakami trata da solidão e da dificuldade envolvida nos relacionamentos pessoais sempre de modo muito delicado.

Ufo em Kushiro, é sobre um rapaz que é deixado pela esposa e vai até Hokkaido levar um pacote para a irmã de um amigo e para se esquecer de sua situação.

Paisagem com Ferroplano, mostra o relacionamento de um pintor de meia idade que gosta de fazer fogueiras com a madeira que encontra na praia e uma garota que fugiu de casa quando era mais jovem.

Todos os filhos de Deus podem dançar, é sobre um rapaz que busca respostas sobre quem é seu pai.

Tailândia, um de meus preferidos, é sobre uma médica que vai até a Tailândia para uma conferência e estende sua estadia em um resort em um local isolado.

Super-sapo salva Tóquio, também é um barato, muito divertido e bonito. Um dia um cara que trabalha em um banco encontra um sapo gigante em seu apartamento que diz que ele precisa ajudá-lo a derrotar "Verme", um ser que vive no subsolo e ameaça destruir a cidade de Tóquio...

Torta de mel, conta a história de três amigos e de seu triângulo amoroso. Também muito terno.

Agora estou sem Murakamis para ler e tenho que esperar...

segunda-feira, julho 23, 2007

Elizabeth Costello - J. M. Coetzee

Li "Disgrace" (traduzido como "Desonra" no Brasil) antes do escritor sul-africano John Maxwell Coetzee ganhar o Nobel de literatura em 2003 e o achei ótimo, depois li O mestre de São Petesburgo, cujo personagem principal é Dostoievski e, ontem, terminei Elizabeth Costello. Respectivamente, um romance sobre a questão racial na África do Sul, um livro que traz um Dostoievski atormentado em busca de respostas sobre a morte de seu enteado e as cenas da vida de uma escritora já consagrada no final de sua carreira, Elizabeth Costello.

Gosto de Coetzee, ele mereceu o Nobel e um dia espero encontrá-lo em uma Flip da vida apenas para conferir se ele é parecido com seus personagens: um pouco cínico, um pouco cansado, alguém que responderia "Whatever" para qualquer questão que lhe fizessem como se tivessem lhe perguntado algo como "Would you like to have tea or coffee?".

Acho que em Elizabeth Costello ele deixa bem clara a forma como encara a vida de um escritor. A protagonista viaja de um lado para o outro para dar palestras sobre a literatura ou para falar sobre assuntos como a crueldade com os animais, mas apesar de aceitar os convites, ela não deixa de se exasperar em ter que conversar com pessoas com as quais não se importa quando preferiria estar descansando.

No último capítulo, uma alegoria sobre a morte parecida com alguns episódios das histórias de Kafka, Elizabeth está em uma cidade estranha e quer atravessar um portão para sair de lá, mas para isso, precisa apresentar-se diante de um júri e dizer no que acredita. Ela já está na segunda audiência e se desespera, pois sabe que sua busca por alguma paixão, por algo em que professar sua fé, parece estar condenada ao fracasso.

"When she was young, in a world now lost and gone, one came across people who still believed in art, or at least in the artist, who tried to follow in the footsteps of the great masters. No matter that God had failed, and Socialism: there was still Dostoevsky to guide one, or Rilke, or Van Gogh with the bandaged ear that stood for passion. Has she carried that childish faith into her late years, and beyond: faith in the artist and his truth?

Her first inclination would be to say no. Her books certainly evince no faith in art. Now that it is over and done with, that lifetime labour of writing, she is capable of casting a glance back over it that is cool enough, she believes, even cold enough, not to be deceived. Her books teach nothing, preach nothing; they merely spell out, as clearly as they can, how people lived in a certain time and place. More modestly put, they spell out how one person lived, one among billions: the person whom she, to herself calls she, and whom others call Elizabeth Costello. If, in the end, she believes in her books themselves more than she believes in that person, it is belief only in that sense that a carpenter believes in a sturdy table or a cooper in a stout barrel. Her books are, she believes, better put together than she is."

Oh,dear Emily!

Adoro a Emily Dickinson, gosto tanto de seus poemas:

I'm nobody! Who are you?
Are you - Nobody - Too?
Then there's a pair of us!
Don't tell! they'd advertise - you know!

How dreary - to be - Somebody!
How public - like a Frog -
To tell one's name - the livelong June -
to an admiring Bog!

Este também:

I've seen a Dying Eye
Run round and round a Room -
In search of Something - as it seemed -
Then Cloudier become -
And then - obscure with Fog -
And then - be soldered down
Without disclosing what it be
'Twere blessed to have seen -

domingo, julho 15, 2007

Como acabar de uma vez por todas com a cultura - Woody Allen

Descobri Woody Allen como escritor recentemente, quando li um dos artigos que ele escreveu para a revista New Yorker no qual mistura teorias filosóficas e dietas. Eu o achei extremamente divertido, um exemplo da típica ironia woodyalleniana e fiquei feliz ao encontrar uma coletânea com outros artigos em um livro bem velhinho, publicado pela primeira vez em 1974.

O. compra livros "curiosos", então tive que ler tudo em espanhol.

Em "Como acabar de uma vez por todas com a cultura" Allen satiriza tudo e todos, desde a psiquiatria, biografia, revoluções, filosofia até o cinema e a máfia. Achei alguns artigos melhores do que outros, acho que há algumas tiradas que fazem mais sentido se você é americano ou judeu, mas no geral, é uma leitura bem interessante e que flui rápido. Eis um trecho do artigo "Como acabar com as revoluções na América Latina", os revolucionários estão na selva e um deles escreve um diário da campanha:

"10 de julho: Hoje foi, em linhas gerais, um bom dia levando em consideração que os homens de Arroyo nos emboscaram e quase nos liquidaram. Em parte, a culpa foi minha, porque revelei nossa posição ao invocar a Santíssima Trindade aos berros quando uma tarântula subiu por minha perna. Durante alguns segundos, não consegui me livrar da tenaz da maldita aranha enquanto ela abria caminho nas secretas profundezas de minha roupa fazendo com que eu corresse como um louco até o rio e me jogasse nele, o que me pareceu que durou três quartos de hora. Pouco depois, os soldados de Arroyo abriram fogo sobre nós. Lutamos com valentia, embora a surpresa tenha criado uma leve desorganização e durante os primeiros dez minutos nossos homens tenham atirado uns nos outros. Mesmo Vargas se salvou por um fio da catástrofe quando uma granada aterrissou a seus pés. Ele ordenou que me jogasse sobre ela. Consciente de que somente ele era indispensável para nossa causa, eu o fiz. O destino quis que a granada não explodisse, e saí inteiro do incidente com apenas um ligeiro tremor e a incapacidade de adormecer a menos que alguém segure uma de minhas mãos."


quarta-feira, julho 11, 2007

Nova lista de livros para ler

Duas vezes por ano, eu tenho que dar uma geral na edícula que fica do lado da casa. Lá estão parte de nossos livros e alguma "bagunça" (atualmente parece haver mais bagunça do que livros), a tarefa consiste em limpar as prateleiras das estantes e colocar bolinhas de naftalina em cada uma delas, atrás dos livros, passei metade do dia fazendo isso, a naftalina acabou e preciso comprar mais, falta bastante para terminar e agora o trabalho vai mais devagar, porque a naftalina impregna tudo e não posso ficar lá dentro por muito tempo. (Não quero ser encontrada de costas junto com as baratas!) Sempre que faço a limpeza encontro algo que sinto vontade de ler, estes entraram na fila:

After the quake do Murakami, contos sobre o terremoto de Kobe.
Um livro do Woody Allen em espanhol, língua em que não gosto de ler, mas O. às vezes compra coisas do arco-da-velha, como alguns livros do Kafka em italiano. Mamma mia!
O processo do Kafka em alemão (quero ver se meu curso está adiantando algo)
Precision and Soul, um livro de ensaios do Musil.