quinta-feira, julho 17, 2008

Dubrovski - Alexander Pushkin

Uma leitora boliviana de meu outro blog presenteou-me com vários mimos, entre eles, livros e textos. Aura foi um deles, Dubrovski foi outro. Novamente, outra primeira vez: primeira vez que leio Pushkin.
Dubrovski é um texto curto, inacabado e publicado postumamente. O título é o nome do protagonista de uma triste história. Vladimir Dubrovski é um jovem militar que de repente vê as terras de seu pai serem confiscadas de forma arbitrária por Kirila Petrovitch Troekurov, um grande proprietário que manda e desmanda na região.
Vítima de Troekurov, Dubrovski se transforma em uma espécie de bandido "justo", roubando quem sabe ser desonesto e poupando as pessoas honestas. Seu desejo é vingar-se de Troekurov, mas ele acaba apaixonando-se por Masha, a filha deste último, e seus planos vão por água abaixo.

Fiquei imaginando se a história não terminaria de melhor forma se Pushkin a tivesse terminado. (E como gostaria que ele a tivesse terminado!)

sábado, julho 05, 2008

American Stories - Nagai Kafu

Nagai Kafu é um escritor japonês do começo do século XX e os principais temas de suas obras são a vida e o cotidiano dos bairros de gueixas, das casas de chás, das prostitutas e de seus freqüentadores, figuras do “mundo flutuante” japonês. Eu o conhecia pela tradução inglesa de dois contos longos, During the rains e Flowers in the shade. Um é centrado no dia-a-dia de uma gueixa e o outro é sobre o relacionamento de um casal pobre, a mulher se prostitui e sustenta o marido. Não há muitos acontecimentos nas histórias de Nagai Kafu, mas a forma como ele as narra é muito poética.

Durante sua juventude, o escritor passou alguns anos nos Estados Unidos e American Stories é baseada nessa sua estadia. A maioria das histórias/relatos trata da vida de imigrantes que chegaram ao país com a expectativa de enriquecer e que são discriminados, sentem-se sós e alienados. Outros textos deixam transparecer a admiração do autor pela liberdade de costumes e modernidade dos americanos quando comparados com os japoneses.

Não gostei tanto deste livro quanto de During the rains, mas é interessante para ter uma idéia da configuração da sociedade americana na época e também para vê-la através dos olhos de um estrangeiro, e Nagai Kafu é um bom observador. Ele também gosta de citar poemas e autores franceses, vide um trecho de Fallen Leaves:

“Sonhos, embriaguez, ilusões, isso é nossa vida. Desejamos sempre ter amor e sonhamos com o sucesso, mas realmente não queremos que se realizem. Apenas perseguimos as ilusões que aparecem como se pudessem ser realizadas e desejamos embriagar-nos com essa antecipação e expectativa. Baudelaire diz que estar embriagado, essa é a única questão. Se você deseja evitar sentir o horrível peso do tempo que comprime seus ombros e o curva ao chão, você não deve hesitar em ficar bêbado. Seja com álcool, poesia, moralidade, ou o que quer que seja, isso não importa. Se às vezes você despertar de sua embriaguez nos degraus de um palácio, sobre a grama de um vale, ou em um quarto arruinado, pergunte ao vento, às ondas, às estrelas, aos pássaros, ou aos relógios, qualquer coisa que voe, mova-se, gire, cante, fale, que horas são. O vento, as ondas, as estrelas, os pássaros, os relógios responderão: é tempo de ficar embriagado, não importa se com álcool, poesia, moralidade, ou o que quer que seja; se você não quiser ser um mísero escravo do tempo, deve manter-se sempre embriagado...”


Ou este outro trecho de Two days in Chicago, ao notar como os americanos estão sempre com um jornal nas mãos:


“... que povo amante de jornais! Eles dirão que o povo de uma nação avançada deve procurar saber tanto quanto possa sobre o que acontece no mundo, e o mais rápido possível... Ah, mas eles não percebem que não há nada extraordinário ou estranho nos assuntos do mundo, a mesma confusão sendo repetida continuamente? Na diplomacia, o conflito de interesses entre A e B; nas guerras, o forte vence; os bancos quebram, há fraudes durante as eleições, descarrilamentos de trem, roubos, assassinatos, tais acontecimentos diários da existência são sempre os mesmos e monótonos ao extremo.

O escritor francês Maupassant já não teve que agüentar a intolerável dor desta terrivelmente tediosa vida e escreveu em seu diário: Abençoados aqueles que ignoram que as mesmas abomináveis coisas são incessantemente repetidas. Abençoados aqueles que andam hoje e amanhã nas mesmas carruagens, conduzidas pelos mesmos animais e têm a energia, sob o mesmo céu, diante do mesmo horizonte, de fazer o mesmo trabalho da mesma forma, rodeados pelos mesmos móveis. Abençoados aqueles que não se dão conta, com grande ódio, de que nada mudará ou acontecerá neste esgotado e cansado mundo..."

terça-feira, julho 01, 2008

Aura - Carlos Fuentes

Um livro que cabe na palma da mão, praticamente um conto.
Primeiro texto de Carlos Fuentes que leio. Gostei muito da história, comecei a lê-la sentada em uma cantina da universidade, passei para um banco de praça e terminei-a em casa no mesmo dia. A narrativa é envolvente e ia virando uma página atrás da outra.

Felipe monteiro é um professor de história de vinte e poucos anos que lê um anúncio mais ou menos assim no jornal: “Procura-se jovem historiador, organizado, cuidadoso, que saiba francês para executar funções de secretário.”
O pagamento é ótimo e ainda há cama e comida.
Quando ele lê o anúncio pela primeira vez, não se candidata, pois acha que alguém já foi contratado, mas na segunda vez em que vê o anúncio no mesmo jornal, dirige-se ao endereço indicado, uma casa antiga e decadente, onde é recebido por uma velha que, pelas suas contas, deve ter mais de cem anos. Sua tarefa consiste em ler e corrigir os diários de seu falecido esposo. Ele é conduzido ao seu quarto pela sobrinha da velha, Aura, uma jovem de olhos verdes pela qual logo se apaixona. Daí em diante, coisas estranhas começam a acontecer naquele lugar onde a noção de tempo e realidade perde-se em cômodos eternamente escuros e opressivos.