domingo, setembro 28, 2008

Madame Bovary - Gustave Flaubert

Finalmente li Madame Bovary de Gustave Flaubert, um livro de uma maturidade psicológica incrível e escrito de uma forma magistal. A história começa apresentando o jovem Charles Bovary em seu primeiro dia de escola, um garoto tímido, não muito inteligente, medíocre até. Ele irá prosseguir seus estudos sem brilho e conseguirá uma posição como médico em uma cidade de província. Ele se casa com uma viúva com algum dinheiro devido à intervenção de sua mãe e depois que esta morre, Charles se casa com a jovem filha de um pequeno proprietário de terras, Emma. Charles adora a jovem esposa e julga-se o mais feliz dos homens, mas pouco tempo após o casamento, Emma sente-se decepcionada com sua escolha, com a simplicidade do marido, com a sua vida sem nada de interessante, sem paixões, sem grandes acontecimentos. Ela sonha com uma vida cheia de aventuras. Sua frustração torna-a vítima de doenças nervosas, de repentes de raiva e irritação contra o marido que não a compreende e que não mede esforços para satisfazer todos os seus caprichos.

Como forma de melhorar o humor da esposa, Charles decide mudar-se para outra pequena cidade. Lá, Emma conhece Leon, um rapaz que trabalha como notário e pelo qual se apaixona. Seu amor é correspondido, mas Leon parte para completar seus estudos antes que algo definitivo ocorra. Pouco tempo depois, quando Emma começa a se aborrecer novamente, ela conhece Rodolfo, um proprietário local que a seduz. Eles ficam juntos por algum tempo, mas Emma sugere que ambos fujam juntos, algo que ele não tem intenção de fazer, e o caso termina. Emma tem uma crise nervosa, depois entra em uma fase religiosa, mas logo volta a ser a mesma mulher insatisfeita com sua vida, é nesse momento que reencontra Leon, já um pouco mais experiente em relação à vida e às mulheres. Ele se torna seu novo amante. O final do livro é trágico, vemos Emma perder-se cada vez mais em uma sucessão de mentiras e dívidas contraídas para satisfazer seus caprichos.

Que história boa! A capa do livro que li traz a foto de Isabelle Huppert, atriz que interpretou o papel de Emma no filme com o mesmo nome do romance de Flaubert (que não vi), mas ela é tão diferente da Emma descrita pelo autor! Emma é morena, com cabelos pretos e olhos de uma cor indefinida , que varia conforme a luz, e também mais jovem do que atriz.

Eis um trecho que descreve o estado de espírito de Emma logo após um de seus encontros com Leon:

“Não importa! Ela não estava feliz, nunca o fora. De onde vinha essa insuficiência da vida, essa corrupção instantânea das coisas nas quais se apoiava?… Mas se existisse um ser forte e belo em algum lugar, uma natureza nobre, plena de exaltação e de refinamentos, um coração de poeta sob uma forma de anjo, lira com cordas de cobre, soando em direção aos céus versos elegíacos, por que ela não o encontraria por acaso? Oh! Que impossibilidade! Nada mais valia uma busca, tudo mentia! Cada sorriso escondia um bocejo de tédio, cada alegria uma maldição, todo prazer um desgosto, e os melhores beijos deixavam nos lábios apenas um desejo irrealizável de uma volúpia maior.”


terça-feira, setembro 09, 2008

What I talk about when I talk about running - Haruki Murakami

Acabei de ler o último livro de Haruki Murakami traduzido para o inglês, What I talk about when I talk about running, a entrevista da Der Spiegel entregou boa parte do conteúdo da obra, ela é praticamente um diário das maratonas que o autor fez pelo mundo depois que começou a correr após os trinta anos, mais ou menos na mesma época em que ele decidiu fechar o bar que tinha em Tóquio para viver da escrita.

Murakami procura mostrar a relação entre a corrida e a vida de escritor e explica como ambas as atividades exigem disciplina, força de vontade e empenho. O livro também revela sua preocupação com a idade e os limites que o passar dos anos impõe ao corpo. Por meio deste livro, os fãs de Murakami podem dar uma espiada em outra faceta do autor, mas tive a impressão de que apesar de tratar-se de uma espécie de diário, Murakami não abre mão de uma certa reserva…