segunda-feira, janeiro 07, 2008

The discovery of France - Graham Robb

"Agora você não pode me dizer que eu nunca a levei para a França". Foi dizendo isso que O. me estendeu este livro. Apesar de não ser exatamente a idéia que tinha em mente quando lhe dizia que gostaria de "conhecer a França", acho que aprendi coisas muito interessantes lendo as suas páginas. Por exemplo, é possível ver como a idéia de um país unido e homogêneo é bem recente, até meados do século XIX, há lugares inexplorados ou pouco conhecidos e muito do que era chamado de "francês" na época deveria ser chamado de "parisiense" para ser mais correto. Foi por meio de um longo processo educativo (com direito a tabefes e cascudos) que a língua francesa conseguiu prevalecer diante dos diversos dialetos regionais e foi necessário superar a desconfiança dos habitantes de diversos vilarejos para mapear todas as regiões. O livro começa narrando o ritmo moroso das viagens longas por estradas precárias e a penúria dos rincões isolados e termina com uma França mais parecida com aquela que conhecemos, mas a nostalgia em relação a tudo o que se perdeu com a modernização e o progresso é inevitável.
Graham Robb conta vários fatos pitorescos, ele descreve o modo como cães treinados eram usados para contrabandear sal e outros produtos através da fronteiras e menciona como os barqueiros que transportavam barris de vinho da Borgonha até Paris faziam suas próprias "degustações" durante a viagem que durava vários dias. Apenas a título de curiosidade, traduzi um trecho sobre a alimentação no começo do século XIX:

"Para os turistas que se aventuravam além de Paris, o verdadeiro sabor da França era o de pão amanhecido. O grau de envelhecimento refletia a disponibilidade de combustível. Um manual de arquitetura rural publicado em Toulouse em 1820 declarava que o forno público deveria ser suficientemente grande para permitir que o pão da semana pudesse ser assado em um único período de vinte e quatro horas. Nos Alpes, pão suficiente era feito de uma só vez para durar um ano e às vezes dois ou três anos. Ele era assado, ao menos uma vez, depois pendurado sobre um fogo fumarento ou seco ao sol. Às vezes, o "pão" era apenas um biscoito de farinha de cevada e feijão. Para torná-lo comestível e melhorar a cor, ele era amaciado em coalhada ou soro de leite. Pessoas ricas usavam vinho branco."

Talvez a França no período não seja apresentada de seu melhor ângulo, mas o livro mostra como o país em particular, e a Europa em geral, creio eu, passou por mudanças profundas na virada do século XIX para o XX.



2 comentários:

miki w. disse...

credo, nem dá pra chamar de pão algo que foi assado há 3 anos :-p!!! eu chamaria de, sei lá, biscoito-jesus-está-chamando hehehehe!

Karen disse...

É um bom nome para esse pão! rs