sábado, fevereiro 09, 2008

Viagem a Portugal - José Saramago

Descobri José Saramago na época em que prestava o vestibular porque o Memorial do convento estava na lista de leitura obrigatória para as provas. Foi uma descoberta feliz, o livro é muito bonito, Saramago sabe unir reflexão com poesia. Depois do Memorial, passei para O evangelho segundo Jesus Cristo, O ano da morte de Ricardo Reis e Ensaio sobre a cegueira, neste último, há uma imagem que desperta um contentamento e assombro enormes em mim todas as vezes que me lembro dela: a cena do banho das três mulheres na varanda do apartamento. Três cegas e a mulher do médico, única que vê, vão para o lado de fora e tomam um banho de chuva depois de passarem pelas situações mais desesperadoras, elas riem e sentem a água sobre o corpo. Essa imagem é de uma pureza encantadora! Li ainda outros livros de Saramago, mas são os que mencionei os meus preferidos.
Fazia tempo que não voltava ao autor e escolhi justamente um livro de viagens. Sempre gostei de livros de viagens, mesmo daqueles guias de bancas de jornais. Minha adolescência foi povoada de projetos de viagens nunca levados adiante na realidade, por falta de dinheiro (o que não mudou muito, infelizmente), mas detalhadíssimos na imaginação.
Viagem a Portugal é um deleite para quem gosta de história e arte. Saramago começa sua jornada lá no norte do país, na fronteira com a Espanha e vem descendo em direção ao sul. Ele é um guia cheio de erudição, entra nas igrejas e museus, passeia por ruínas e castelos, fala sobre estilos arquitetônicos, conhece azulejistas, pintores, escultores, a história dos lugares. Ele escreve dando suas opiniões, contando incidentes, fazendo amizades pelo caminho. É uma pena que o livro não traga fotos! Se um dia for a Portugal, e sei que irei (leram isso meus queridos leitores portugueses?), levarei o livro comigo para que Saramago aponte para as coisas e faça com que eu preste atenção aos detalhes que, caso contrário, passariam despercebidos.

Este é último parágrafo do livro:

“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: ‘Não há mais que ver’, sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”


10 comentários:

Helô disse...

"A viagem não acba nunca." Gosto muito do Saramago e só por essa frase já gostei desse livro. E tenho certeza que a Gabi também :)

Se ainda não leste, aqui vai a minha sugestão: "As intermitências da Morte". Muito bom. E divertido!

beijos

Karen disse...

Helô, bela frase, não é mesmo?
Não conheço o livro que você mencionou, mas gostei do título, vou procurar! Obrigada!

miki w. disse...

karen, puxa, q surpresa! nao sabia q memorial do convento era um livro de vestibular! eu o ganhei de presente, há muito tempo, comecei a ler, mas não cheguei a concluir. blimunda era uma personagem intrigante e maravilhosa. ainda quero retornar ao livro!!!

gostei do título do ano da morte de RR. suponho q seja RR de fernando pessoa? eu amo RR, é meu heterônimo predileto! fiquei curiosíssima em ler o livro!

e muito embora eu, ao contrário de vc, não goste de planejar nada nada as viagens (gosto de ir e me perder e andar meio a esmo e descobrir, mesmo q isso faça com q eu perca algo imperdível, rs!!!), fiquei pensando q esse livro de saramago deve ser encantador!

bjs, miki

Karen disse...

Miki, Blimunda é mesmo uma personagem muito interessante! O final do livro é muito bonito... (escrevi isso só para animá-la a continuar... hehe)

É o RR do Pessoa, praticamente é o meu favorito por causa disso!

Eu gosto de marcar alguns pontos para visitar, mas também adoro começar a andar em um ponto e seguir a esmo entre as ruazinhas de uma cidade para ver o que encontro.

miki w. disse...

hihihihi, plantou a curiosidade na minha cabecinha!!! sou assim, às vezes os pobres livros ficam abandonados à própria sorte, mas sempre acabo voltando a eles! o maior empecilho é quando outro livro pula sem pudores na frente de todos os outros hehehehehe.

oh, puxa, acho q vou amar esse livro sobre o RR! pronto, outro pra lista, rs!

não é uma sensação maravilhosa? meio detetivesca, hahahahaha.

bjs!!!

Karen disse...

Soube sim, estou curiosa para ver como ficou!

Anônimo disse...

Mais uma informação: há uma edição portuguesa (Editorial Caminho) que é uma edição ilustrada com fotografias lindas de Maurício Abreu, fotográfo que acompanhou Saramago na viagem. Essa edição pode ser conseguida através da Livraria Portugal de Sâo Paulo.

Karen disse...

Obrigada pela informação, Anônimo! O Saramago não menciona o fotógrafo ou fotografias em nenhum momento então pensei que não houvesse nenhum registro de imagens. O livro deve ser mesmo lindo!

sonia disse...

Saramago é um dos meus escritores prediletos. Também gostei muito de Ensaio sobre a cegueira e daquela cena em que as mulheres tomavam banho de chuva. Ficou marcada como a mais impactante do livro. Saramago tem o dom precioso de nos levantar do chão e flutuar no seu mundo!.
Abraços,
Sônia

Anônimo disse...

alguem sabe quem sao os personagens protagonista e os secundarios