quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Tender is the night - F. Scott Fitzgerald

Mais uma primeira vez na minha vida (engana-se quem pensa que as primeiras vezes são raras!), primeira vez que leio Francis Scott Fitzgerald.
Tender is the night, Suave é a noite, provavelmente um dos títulos de livro mais bonitos que conheço (inspirado em Ode to a Nightingale, um poema de John Keats), lembro que meu orientador, na época em que ele ainda não sabia que seria meu orientador, costumava encaixar o nome do livro no meio de sua peroração assim do nada, apenas dizia algo como “... pensem no caso de um livro como Tender is the night...” e continuava sua aula sobre Descartes. (Eram aulas de filosofia, talvez eu estivesse sonolenta demais naquele período da manhã para prestar atenção no encadeamento das idéias...)
A história, que se passa na primeira metade do século passado em locais como a Riviera Francesa, Paris e nos alpes suiços, é sobre Dick, um psiquiatra que se apaixona e casa com Nicole, uma de suas pacientes, filha de uma abonada família americana, e dos conflitos de seu relacionamento. É sobre como as paixões nascem e se consomem, como as expectativas transformam-se em decepção, enfim, sobre a demasiadamente humana existência. (E é, também, um livro um pouco autobiográfico, pois a esposa de Fitzgerald, Zelda, foi uma paciente de clínicas psiquiátricas enquanto ele teve sérios problemas com o álcool.)
O livro é muito bem escrito, enquanto lia, não conseguia deixar de pensar nos diálogos de filmes americanos antigos, quando os roteiristas eram também grandes escritores, e via as cenas em minha mente com direito a seus momentos dramáticos, seus galãs e suas divas.
Fitzgerald é imbatível quando disseca os relacionamentos, seus movimentos menos explícitos, traduzo um trecho (espero que não muito mal):

“Quando ele se sentou na beira da cama, sentiu o quarto, a casa e a noite vazios. No quarto ao lado, Nicole murmurou algo desolada e ele lamentou qualquer que fosse o tipo de solidão que ela sentia em seu sono. Para ele, o tempo permanecia imóvel e então, após alguns anos, aceleravam-se precipitadamente como o rápido rebobinar de um filme, mas para Nicole, os anos esvaíam-se pelo relógio, calendário e aniversário, somados à agonia de sua beleza perecível.
Mesmo o último ano e meio em Zugersee parecia tempo perdido para ela, as estações marcadas apenas pelos trabalhadores na estrada que se tornavam rosados em maio, marrons em julho, negros em setembro, brancos outra vez na primavera. Ela emergiu de sua primeira enfermidade cheia de novas esperanças, desejando muito, porém, privada de qualquer subsistência além de Dick, criando filhos que apenas podia fingir amar gentilmente, órfãos orientados. As pessoas de que gostava, a maioria rebeldes, perturbavam-na e eram-lhe nocivas – ela procurava nelas a vitalidade que as tornava independentes ou criativas ou rudes, procurava em vão – pois seus segredos estavam profundamente enterrados em conflitos de infância que elas tinham esquecido. Elas estavam mais interessadas na harmonia e charme exteriores de Nicole, a outra face de sua enfermidade. Ela levava uma vida solitária possuindo Dick que não desejava ser possuído.
Muitas vezes ele tentou sem sucesso relaxar sua influência sobre ela. Eles tinham muitos bons momentos juntos, agradáveis conversas entre as paixões das noites insones, mas quando ele se afastava e mergulhava em si mesmo, ele a deixava agarrada ao Vazio que contemplava em suas mãos, ao qual dava vários nomes, mas que ela sabia ser apenas a esperança de que ele logo retornaria.”


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