quarta-feira, dezembro 24, 2008
O jardim adormecido de Riichi Yokomitsu
quarta-feira, novembro 19, 2008
Lendas e fábulas - Selma Lagerlöf
Sempre tive uma grande paixão por lendas, contos, fábulas e mitos e era natural que gostasse deste livro, claro que as histórias não são doces e nem sempre têm finais felizes, ao contrário, muitas vezes elas se assemelham mais a pesadelos, como a história do proprietário de terras que perde uma aposta feita com o espírito que mora em sua casa ou a do troll que troca o bebê de uma mulher por seu próprio filho. Outras histórias tratam de injustiças reparadas, o cristianismo contra o paganismo, etc.
domingo, setembro 28, 2008
Madame Bovary - Gustave Flaubert
Como forma de melhorar o humor da esposa, Charles decide mudar-se para outra pequena cidade. Lá, Emma conhece Leon, um rapaz que trabalha como notário e pelo qual se apaixona. Seu amor é correspondido, mas Leon parte para completar seus estudos antes que algo definitivo ocorra. Pouco tempo depois, quando Emma começa a se aborrecer novamente, ela conhece Rodolfo, um proprietário local que a seduz. Eles ficam juntos por algum tempo, mas Emma sugere que ambos fujam juntos, algo que ele não tem intenção de fazer, e o caso termina. Emma tem uma crise nervosa, depois entra em uma fase religiosa, mas logo volta a ser a mesma mulher insatisfeita com sua vida, é nesse momento que reencontra Leon, já um pouco mais experiente em relação à vida e às mulheres. Ele se torna seu novo amante. O final do livro é trágico, vemos Emma perder-se cada vez mais em uma sucessão de mentiras e dívidas contraídas para satisfazer seus caprichos.
Que história boa! A capa do livro que li traz a foto de Isabelle Huppert, atriz que interpretou o papel de Emma no filme com o mesmo nome do romance de Flaubert (que não vi), mas ela é tão diferente da Emma descrita pelo autor! Emma é morena, com cabelos pretos e olhos de uma cor indefinida , que varia conforme a luz, e também mais jovem do que atriz.
Eis um trecho que descreve o estado de espírito de Emma logo após um de seus encontros com Leon:
“Não importa! Ela não estava feliz, nunca o fora. De onde vinha essa insuficiência da vida, essa corrupção instantânea das coisas nas quais se apoiava?… Mas se existisse um ser forte e belo em algum lugar, uma natureza nobre, plena de exaltação e de refinamentos, um coração de poeta sob uma forma de anjo, lira com cordas de cobre, soando em direção aos céus versos elegíacos, por que ela não o encontraria por acaso? Oh! Que impossibilidade! Nada mais valia uma busca, tudo mentia! Cada sorriso escondia um bocejo de tédio, cada alegria uma maldição, todo prazer um desgosto, e os melhores beijos deixavam nos lábios apenas um desejo irrealizável de uma volúpia maior.”
terça-feira, setembro 09, 2008
What I talk about when I talk about running - Haruki Murakami
Murakami procura mostrar a relação entre a corrida e a vida de escritor e explica como ambas as atividades exigem disciplina, força de vontade e empenho. O livro também revela sua preocupação com a idade e os limites que o passar dos anos impõe ao corpo. Por meio deste livro, os fãs de Murakami podem dar uma espiada em outra faceta do autor, mas tive a impressão de que apesar de tratar-se de uma espécie de diário, Murakami não abre mão de uma certa reserva…
segunda-feira, agosto 04, 2008
Bola de sebo e outros contos - Guy de Maupassant
Bons livros levam a outros livros, isso é inevitável. Após os elogios feitos por Nagai Kafu aos textos de Guy de Maupassant, não podia mais ignorar a existência deste último. Tinha um livro com alguns contos traduzidos e comecei a folheá-lo para conhecer o autor e gostei de tudo o que li. As histórias são muito bem contadas, muito boas mesmo. O autor mostra personagens bem humanos, com mais fraquezas e vícios do que virtudes, ardilosos e ignorantes.
Gostei muito de Bola de sebo, A pensão Tellier, Em família e Miss Harriet. Este último conto é muito bonito e delicado. Um dos últimos textos, Horla, é um conto fantástico muito interessante que talvez destoe um pouco do tema dos contos recolhidos no volume, pois a maioria trata de relacionamentos, mas é interessante observar como Maupassant constrói a história.
Acho essa descrição do Sr. Caravan, do conto Em família, muito bem feita:
“Estava velho agora, e não tinha sentido passar a vida, pois o colégio fora continuado pela repartição, e os bedéis, ante os quais ele tremia outrora, achavam-se hoje substituídos pelos chefes, a quem temia horrivelmente. A vista desses déspotas de gabinete o fazia estremecer dos pés à cabeça; e, desse contínuo terror, ficara-lhe uma maneira desajeitada de se apresentar, uma atitude humilde e uma espécie de gaguice nervosa.”
E este trecho de Monsieur Parent:
“Ele envelheceu entre o fumo dos cachimbos, perdeu os cabelos sob a chama do gás, considerou como acontecimentos o banho de cada semana, o corte de cabelo de cada quinzena, a compra de um traje novo ou de um chapéu. Quando chegava à sua cervejaria com um chapéu novo, contemplava-se longamente ao espelho antes de sentar-se, punha-o e tirava-o várias vezes seguidas, acomodava-o de diferentes modos, e perguntava enfim à sua amiga, a caixa do estabelecimento, que o olhava interessada: ‘Acha que me assenta bem?’
Duas ou três vezes por ano ele ia ao teatro, e, no verão, passava algumas vezes as suas noites num café-concerto dos Campos Elíseos. De lá trazia na cabeça árias que cantavam no fundo de sua memória durante várias semanas e que ele chegava mesmo a cantarolar, batendo o compasso com o pé quando se achava sentado ante seu chope.
Os anos se sucediam, lentos, monótonos, e curtos porque eram vazios.”
quinta-feira, julho 17, 2008
Dubrovski - Alexander Pushkin
Dubrovski é um texto curto, inacabado e publicado postumamente. O título é o nome do protagonista de uma triste história. Vladimir Dubrovski é um jovem militar que de repente vê as terras de seu pai serem confiscadas de forma arbitrária por Kirila Petrovitch Troekurov, um grande proprietário que manda e desmanda na região.
Vítima de Troekurov, Dubrovski se transforma em uma espécie de bandido "justo", roubando quem sabe ser desonesto e poupando as pessoas honestas. Seu desejo é vingar-se de Troekurov, mas ele acaba apaixonando-se por Masha, a filha deste último, e seus planos vão por água abaixo.
Fiquei imaginando se a história não terminaria de melhor forma se Pushkin a tivesse terminado. (E como gostaria que ele a tivesse terminado!)
sábado, julho 05, 2008
American Stories - Nagai Kafu
Nagai Kafu é um escritor japonês do começo do século XX e os principais temas de suas obras são a vida e o cotidiano dos bairros de gueixas, das casas de chás, das prostitutas e de seus freqüentadores, figuras do “mundo flutuante” japonês. Eu o conhecia pela tradução inglesa de dois contos longos, During the rains e Flowers in the shade. Um é centrado no dia-a-dia de uma gueixa e o outro é sobre o relacionamento de um casal pobre, a mulher se prostitui e sustenta o marido. Não há muitos acontecimentos nas histórias de Nagai Kafu, mas a forma como ele as narra é muito poética.
Durante sua juventude, o escritor passou alguns anos nos Estados Unidos e American Stories é baseada nessa sua estadia. A maioria das histórias/relatos trata da vida de imigrantes que chegaram ao país com a expectativa de enriquecer e que são discriminados, sentem-se sós e alienados. Outros textos deixam transparecer a admiração do autor pela liberdade de costumes e modernidade dos americanos quando comparados com os japoneses.
Não gostei tanto deste livro quanto de During the rains, mas é interessante para ter uma idéia da configuração da sociedade americana na época e também para vê-la através dos olhos de um estrangeiro, e Nagai Kafu é um bom observador. Ele também gosta de citar poemas e autores franceses, vide um trecho de Fallen Leaves:
“Sonhos, embriaguez, ilusões, isso é nossa vida. Desejamos sempre ter amor e sonhamos com o sucesso, mas realmente não queremos que se realizem. Apenas perseguimos as ilusões que aparecem como se pudessem ser realizadas e desejamos embriagar-nos com essa antecipação e expectativa. Baudelaire diz que estar embriagado, essa é a única questão. Se você deseja evitar sentir o horrível peso do tempo que comprime seus ombros e o curva ao chão, você não deve hesitar em ficar bêbado. Seja com álcool, poesia, moralidade, ou o que quer que seja, isso não importa. Se às vezes você despertar de sua embriaguez nos degraus de um palácio, sobre a grama de um vale, ou em um quarto arruinado, pergunte ao vento, às ondas, às estrelas, aos pássaros, ou aos relógios, qualquer coisa que voe, mova-se, gire, cante, fale, que horas são. O vento, as ondas, as estrelas, os pássaros, os relógios responderão: é tempo de ficar embriagado, não importa se com álcool, poesia, moralidade, ou o que quer que seja; se você não quiser ser um mísero escravo do tempo, deve manter-se sempre embriagado...”
Ou este outro trecho de Two days in Chicago, ao notar como os americanos estão sempre com um jornal nas mãos:
“... que povo amante de jornais! Eles dirão que o povo de uma nação avançada deve procurar saber tanto quanto possa sobre o que acontece no mundo, e o mais rápido possível... Ah, mas eles não percebem que não há nada extraordinário ou estranho nos assuntos do mundo, a mesma confusão sendo repetida continuamente? Na diplomacia, o conflito de interesses entre A e B; nas guerras, o forte vence; os bancos quebram, há fraudes durante as eleições, descarrilamentos de trem, roubos, assassinatos, tais acontecimentos diários da existência são sempre os mesmos e monótonos ao extremo.
O escritor francês Maupassant já não teve que agüentar a intolerável dor desta terrivelmente tediosa vida e escreveu em seu diário: Abençoados aqueles que ignoram que as mesmas abomináveis coisas são incessantemente repetidas. Abençoados aqueles que andam hoje e amanhã nas mesmas carruagens, conduzidas pelos mesmos animais e têm a energia, sob o mesmo céu, diante do mesmo horizonte, de fazer o mesmo trabalho da mesma forma, rodeados pelos mesmos móveis. Abençoados aqueles que não se dão conta, com grande ódio, de que nada mudará ou acontecerá neste esgotado e cansado mundo..."