Um livro que não te larga. Essa é a definição mais apropriada para esse livro (de acordo com a minha própria experiência, esteja bem claro :-).
Minha melhor amiga, a Kan, emprestou-me esse livro há algum (bastante) tempo. Ele estava ali em minha cabeceira e como bem disse Matthew Shirts em sua coluna segunda-feiral do Estadão, "Há uma pilha de livros no criado-mudo, como acontece em muitos domicílios. Alguns poucos já li, outros, a maioria, pretendo ler, mas no fundo, no fundo sei que não vou. Ficam ali como um atestado de boas intenções." Bem, na verdade, eu tinha um pouco de receio de lê-lo, pois já me via chorando página após página.
Mas eu ia ao cabeleireiro naquele dia e o livro que eu estava lendo tinha chegado ao fim. Eu tinha alguns minutos para decidir o que levar pois, para variar, estava atrasada para sair. Revira daqui, mexe dali... e dei de topa com o livro. E falei: é hoje! Meti o danado na sacola e fui embora.
Os dois primeiros capítulos me deixaram um pouco confusa, não conseguia situar direito as personagens. Mas depois disso... eu não consegui despregar os olhos do livro. Incrível. Li um tanto no cabeleireiro (fazendo uma digressão, nunca sei se vai demorar ou não quando vou ao Benê porque é ele quem tem o poder de decisão do que fazer no meu cabelo), tive sorte pois foi um dia de tintura.
Antes de dormir, peguei de novo no livro pensando 'só mais um pouquinho'. Não consegui mais parar. Isso era por volta de meia-noite e meia. A cada página virada, eu falava só mais um pouquinho, só mais um pouquinho. Até que percebi que não conseguiria dormir antes de descobrir o que afinal tinha acontecido de tão terrível entre as duas personagens principais do livro. Resolvi levantar e ir para a espreguiçadeira - meu local favorito de ler e, afinal, deixar o pobre do Gumpa dormir em paz.
Fui lendo página após página, embevecida, comendo as palavras, virando-as tão rápido quanto o meu cérebro permitia, às vezes ansiando por que o autor fosse mais econômico nas descrições e chegasse logo ao ponto. Deitei o livro finado às 9 da manhã seguinte.
O livro me engoliu, uma maravilha. A narrativa envolvente e cativante vai te levando numa vertigem e você quer saber mais, mais, mais. Além do enredo do romance em si, o pano de fundo sobre a história do Afeganistão, a invasão, a guerra e as privações é algo que te pega. Pelo menos a mim. E isso foi uma descoberta incrível pois eu nunca consegui aprender História e Geografia na escola. E agora, depois de 35 anos, descobri que a literatura, os quadrinhos, o cinema podem suprir essa lacuna da minha formação. Khaled Hosseini mostra como esse país foi devastado em tão pouco tempo. É triste e pungente assim como o é a história de Amir e Hassan, as personagens principais e amigos inseparáveis de uma amizade improvável mas que sempre foi sem nunca poder ter sido.
Não sei se foi a minha avidez que me fez ter essa percepção de que o autor poderia ter sido mais econômico em algumas descrições. Olhando em retrospectiva, também achei que ele fez Amir de gato-e-sapato. Desde que comecei a estudar essa questão da criação e do desenvolvimento de personagens tenho prestado mais atenção a esse ponto. Bom, pode ser uma opinião particular.
De toda maneira, é um livro que vale a pena ser lido!
Kan, adorei o livro, apesar de ter ficado com a cara inchada o resto do dia :-)!
PARA DESFRUTARFiquei com vontade de:
» comer no
Gopala Prasada, pelas descrições cabeça-gorda que ele faz no livro (apesar de o Gopala ser um restaurante indiano ovo-lacto-vegetariano)
» ouvir a trilha do "Paciente Inglês", a única mais próxima do que eu já tenha ouvido um dia daquelas bandas do mundo
» tomar
o chai da Agdá» rever Babel
SERVIÇOtítulo O caçador de pipasautor Khaled Hosseini
editora Nova Fronteira
páginas 365 páginas
título original The Kite Runner
tradução de Maria Helena Rouanet
preço médio R$ 39,90